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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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CRÍTICA

Xuxa continua educando para o consumo

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Ela até que tentou, mas não há meio de Xuxa ser outra coisa além de ela mesma. "Xuxa no Mundo da Imaginação", o programa da maturidade da apresentadora, apesar de cheio de intenções educativas, continua sendo uma vitrine para a Xuxa vender a Xuxa.
Quando o programa estreou, em novembro de 2002, parecia que a loira estava fazendo uma revisão crítica de sua trajetória até com certa veemência. "O Mundo da Imaginação", dizia-se, seria educativo, livre do merchandising, do apelo erotizante. As crianças seriam a atração principal e não haveria necessidade de ela aparecer tanto. Os quadros seriam tão diversos e divertidos que não haveria necessidade de recorrer aos desenhos.
Dez meses depois, não é bem assim. É verdade que o merchandising desenfreado de todo tipo de porcariada sumiu, mas o programa continua vendendo aquilo que poderia se classificar como os produtos "culturais" do império Xuxa, ou seja, os CDs e filmes.
Os índices de audiência, que, depois de uma estréia alentadora quase na casa das duas dezenas, caíram para uma média de 8 pontos, e a exibição do desenho animado "Cubix" se impuseram. Há quadros em que crianças ensinam a fazer brincadeiras com papel, "entrevistam" umas às outras; às vezes, esquetes teatrais que contam rapidamente uma historinha são protagonizados por atores infantis. Mas na maior parte do tempo só dá Xuxa.
Ela vem em versão mais sóbria, mais vestida, é verdade, mas sempre narcisista. Xuxa ensina coreografias para músicas que, não por acaso, estão nos CDs "Xuxa Só para Baixinhos"; Xuxa vestida de palhaça ensina a diferença entre os verbos "ir" e "voltar" em quadro obviamente inspirado em "Vila Sésamo"; Xuxa interpreta vários personagens e, sobretudo, Xuxa faz sermões.
É exatamente aí, onde aparentemente ela estaria usando seu poder comunicador para o "bem", que as intenções educativas de "Xuxa no Mundo da Imaginação" acabam de se esboroar. Durante anos a fio, ela não teve dúvidas de usar seu carisma para ensinar crianças desde a mais tenra idade a consumir qualquer porcaria, a falar num tatibitate infame. Agora, ela usa os beicinhos e a voz meiguinha para inculcar, na marra, noções confusas de bom comportamento que parecem saídas de um manual dos anos 50.
Mudou, aparentemente, o conteúdo, mas a truculência é a mesma. No lugar do "pega, estica e puxa", quase uma alusão àquilo que as crianças deveriam fazer com o salário do papai e da mamãe para participar do "mundo encantado da Xuxa", entram os toques de boas maneiras, as explicações confusas e as ameaças para quem se "comporta mal". O que há de educativo acaba por se tornar entediante. O que continua divertido mesmo é dançar e cantar com a Xuxa -e o CD, o VHS e o DVD que ensinam as letras e coreografias, claro.


@ - biabramo.tv@uol.com.br


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