São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005

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CINEMA

Warner avança em versão de história do jornalista americano degolado

Hollywood disputa drama de Pearl

CHRISTIAN MOERK
DO "NEW YORK TIMES"

Das muitas histórias nascidas de nossos encontros com o terror nos últimos quatro anos, poucas possuem o poder narrativo evidente da história de Daniel Pearl.
Acompanhado por sua jovem mulher, o repórter do "The Wall Street Journal" -que tinha 38 anos, um espírito poético e curiosidade implacável e era judeu- desembarcou no Paquistão, meses após a invasão do Afeganistão pelos EUA, determinado a encontrar extremistas religiosos da região e levar sua história ao jornal. Em janeiro de 2002, ele desapareceu, deixando sua mulher, grávida, para empreender uma busca que acabou conduzindo a um final pavoroso: a fita de vídeo que o mostrou sendo degolado por terroristas islâmicos.
Inevitavelmente, Hollywood se interessou por seu drama. Em outubro de 2003, a Warner Brothers decidiu pagar mais de US$ 500 mil (R$ 1,2 milhão) pelos direitos cinematográficos sobre "Coração Valoroso - A Vida e Morte de Meu Marido Daniel Pearl" (ed. Objetiva, R$ 42), livro escrito por Mariane Pearl, a viúva do jornalista, em colaboração com Sarah Crichton.
O que aconteceu no ano e meio seguinte talvez também tenha sido inevitável, em vista dos percalços que afligem filmes ao longo do tortuoso processo de desenvolvimento: as coisas se complicaram.
No início deste ano, o projeto Daniel Pearl da Warner sobreviveu a um baque quando seus produtores numa empresa chamada Plan B passaram por separações diversas. O casamento de dois dos sócios da produtora, Brad Pitt e Jennifer Aniston, se desfez, e um terceiro sócio, Brad Grey, foi trabalhar à frente da Paramount Pictures. A Plan B acompanhou Grey até a Paramount, enquanto "Coração Valoroso" ficou na Warner.
Uma representante da Plan B disse que os únicos produtores oficialmente ligados ao projeto até agora são Brad Pitt, que vai produzir o filme, e Brad Grey, que fará a produção executiva.
Enquanto isso, um concorrente entrou no páreo. Em fevereiro, a Beacon Communications se aliou aos veteranos cineastas Edward Zwick e Marshall Herskovitz e ao produtor Charlie Lyons e comprou os direitos para o cinema de "Quem Matou Daniel Pearl?" (ed. Girafa, R$ 52), um policial em tom de conversa escrito pelo filósofo Bernard-Henri Lévy.
Na Warner, o trabalho sobre "Coração Valoroso" vem avançando lentamente. O estúdio ainda não tem pronto um primeiro esboço de roteiro de John Orloff, que começou a escrevê-lo há pouco tempo. Orloff escreveu um episódio comovente do seriado da HBO "Band of Brothers", no qual uma companhia de pára-quedistas encontra o campo de concentração de Dachau, na Alemanha nazista, e liberta seus prisioneiros.
Com o envolvimento intenso da viúva de Pearl, o roteirista deve criar uma trama que focalizará a história de amor do jovem casal e a vigília da mulher, à espera do marido que nunca voltou. Boa parte do filme ocorre na casa em que Mariane aguarda o jornalista.
Já o roteirista Peter Landesman está trabalhando numa adaptação do livro de Lévy. Landesman tem talento jornalístico, que, aliado ao pendor por dramas pontuais manifestado por Zwick em filmes como "O Último Samurai", parecem se coadunar bem com o viés geopolítico de Lévy.


Tradução de Clara Allain

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