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Artista cria a partir de cem perguntas
DA REPORTAGEM LOCAL
Em entrevista publicada
nesta Folha no último domingo, o encenador inglês
Peter Brook comparou
seu trabalho ao "momento
vivo" do fotógrafo francês
Cartier-Bresson, isto é,
um instante quando milhares de formas de vida se
ligam de algum modo. Estaria aí a situação que gera
a alta carga artística de seu
trabalho, que Brook costuma chamar de "faísca".
"Faísca" ou "momento
vivo" são conceitos que
também podem ser usados para descrever várias
cenas dos espetáculos de
Pina Bausch, pois é uma
orientação humanista o
que une os três artistas.
Em Bausch, tal orientação se verifica através do
mote que se tornou sinônimo de seu processo:
"Não me preocupo em como as pessoas se movem,
mas o que as move", costuma dizer a coreógrafa.
Isso significa que, para
criar suas obras, ela não
parte de uma questão formal ou técnica, mas de situações existenciais, expressas a partir de perguntas feitas aos seus bailarinos durante a criação.
Em cada espetáculo,
Bausch faz cem perguntas
à sua companhia, que podem ser respondidas por
palavras, movimentos ou
ambos, e seu trabalho é
editar essas respostas,
juntando-as aos cenários,
trilha sonora e figurinos.
Esse método, que
Bausch desenvolve com o
Tanztheater Wuppertal
desde 1978, cinco anos
após ter começado a trabalhar com o grupo, é hoje
um dos mais comuns processos de criação cênica.
"Ela é a avó da dança contemporânea", brincou certa vez o coreógrafo belga
Alain Platel.
(FCY)
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