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Pai herói
Em "As Leis de Família", quinto longa do argentino Daniel Burman, 33, homem revê a relação com o pai a partir do nascimento de seu filho
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dois são advogados, mas
vivem em mundos diferentes.
Enquanto Perelman "pai"
(Arturo Goetz) defende suas
causas -abusando do charme e
dos favores que fazem mover a
burocrática máquina judiciária-, Perelman "filho" (Daniel
Hendler) ensina direito com
"d" maiúsculo na universidade.
A aproximação entre a teoria
e a prática (ou entre as duas gerações dos Perelman) acontece
depois que o "filho" torna-se
pai também.
É quando "As Leis de Família", quinto longa do diretor argentino Daniel Burman, 33,
que estréia hoje no Brasil, encontra sua questão central, que
o cineasta descreve assim:
"Em que nos transformamos
quando nos tornamos pais? E o
que fazemos com nossos próprios pais nesse momento?".
A indagação sobre a família
não é nova na obra de Burman.
Ela é o tema dos anteriores "Esperando o Messias" e "O Abraço Partido", que deu a Hendler
o troféu Urso de Prata de melhor ator no Festival de Berlim.
Microcosmos
"Não há muitos outros temas
além da família, porque ela é
um microcosmos onde estão
representadas todas as razões
do mundo", afirma Burman,
em entrevista à Folha, por telefone, de Buenos Aires.
O diretor reconhece que sua
obsessão cinematográfica pelas
relações familiares pode ser associada a um cinema conservador, mas discorda dessa classificação para seus filmes.
"Se, um dia, as relações familiares tiveram a ver com uma
arte conservadora, hoje, falar
das relações familiares é algo
totalmente alternativo e transgressor. Hoje em dia, casar-se,
ter filhos, criá-los e tentar sobreviver numa vida em família
é um ato heróico que cada vez
menos gente tenta praticar."
Fora do cinema, Burman está tentando se encaixar nesse
papel "heróico". Casado e pai
de dois garotos -de 4 e 2
anos-, escalou o primogênito,
Eloy Burman, para ser o garotinho que muda a perspectiva de
Perelman "filho" sobre a paternidade. Por causa dos garotos,
diz que não vai mais ao cinema,
"a não ser para ver filmes como
"Transformers'".
"Astúcia"
Requisitado por festivais europeus, aplaudido pelo público
e respaldado pela crítica argentina como um diretor talentoso
e "astuto", por conseguir realizar "um cinema popular, mas
pensante", Burman diz que não
pratica estratégia deliberada
para agradar as platéias.
"Faço o que posso, o que consigo. Tenho a sorte de coincidir
com o gosto do público. O que
mais me diverte e me emociona
é o que mais diverte e emociona
muita gente", afirma.
Em "As Leis de Família",
uma das ironias do diretor é
com o monopólio do método de
Pilates -que de fato ocorreu
em Buenos Aires por uma franqueada ilustre na sociedade.
"A comédia é o teste mais
efetivo para um diretor. No
drama, o espectador pode se
emocionar pensando em outra
coisa [além do filme]. No humor, ou você acha graça do que
está na tela ou não acha", diz.
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