São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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Pai herói

Em "As Leis de Família", quinto longa do argentino Daniel Burman, 33, homem revê a relação com o pai a partir do nascimento de seu filho

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois são advogados, mas vivem em mundos diferentes.
Enquanto Perelman "pai" (Arturo Goetz) defende suas causas -abusando do charme e dos favores que fazem mover a burocrática máquina judiciária-, Perelman "filho" (Daniel Hendler) ensina direito com "d" maiúsculo na universidade.
A aproximação entre a teoria e a prática (ou entre as duas gerações dos Perelman) acontece depois que o "filho" torna-se pai também.
É quando "As Leis de Família", quinto longa do diretor argentino Daniel Burman, 33, que estréia hoje no Brasil, encontra sua questão central, que o cineasta descreve assim:
"Em que nos transformamos quando nos tornamos pais? E o que fazemos com nossos próprios pais nesse momento?".
A indagação sobre a família não é nova na obra de Burman. Ela é o tema dos anteriores "Esperando o Messias" e "O Abraço Partido", que deu a Hendler o troféu Urso de Prata de melhor ator no Festival de Berlim.

Microcosmos
"Não há muitos outros temas além da família, porque ela é um microcosmos onde estão representadas todas as razões do mundo", afirma Burman, em entrevista à Folha, por telefone, de Buenos Aires.
O diretor reconhece que sua obsessão cinematográfica pelas relações familiares pode ser associada a um cinema conservador, mas discorda dessa classificação para seus filmes.
"Se, um dia, as relações familiares tiveram a ver com uma arte conservadora, hoje, falar das relações familiares é algo totalmente alternativo e transgressor. Hoje em dia, casar-se, ter filhos, criá-los e tentar sobreviver numa vida em família é um ato heróico que cada vez menos gente tenta praticar."
Fora do cinema, Burman está tentando se encaixar nesse papel "heróico". Casado e pai de dois garotos -de 4 e 2 anos-, escalou o primogênito, Eloy Burman, para ser o garotinho que muda a perspectiva de Perelman "filho" sobre a paternidade. Por causa dos garotos, diz que não vai mais ao cinema, "a não ser para ver filmes como "Transformers'".

"Astúcia"
Requisitado por festivais europeus, aplaudido pelo público e respaldado pela crítica argentina como um diretor talentoso e "astuto", por conseguir realizar "um cinema popular, mas pensante", Burman diz que não pratica estratégia deliberada para agradar as platéias.
"Faço o que posso, o que consigo. Tenho a sorte de coincidir com o gosto do público. O que mais me diverte e me emociona é o que mais diverte e emociona muita gente", afirma.
Em "As Leis de Família", uma das ironias do diretor é com o monopólio do método de Pilates -que de fato ocorreu em Buenos Aires por uma franqueada ilustre na sociedade.
"A comédia é o teste mais efetivo para um diretor. No drama, o espectador pode se emocionar pensando em outra coisa [além do filme]. No humor, ou você acha graça do que está na tela ou não acha", diz.


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