São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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Cinema/estréias - Crítica/"Duro de Matar 4.0"

Superprodução tem alma de videogame

Filme é matematicamente habilidoso na sedução de platéias jovens, repleto de referências à cultura pop e à era digital

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Os EUA não estão muito interessados em John McClane, agora um cansado detetive, convenientemente escondido em uma delegacia de polícia de Nova York. John McClane também não está interessado nos destinos dos EUA. Pai ausente, disposto a tirar o atraso, quer saber (e controlar) o que a filha anda fazendo à noite.
Na melhor tradição do voluntarismo norte-americano, esse policial semi-aposentado troca o pijama por um breve e agitado retorno a seus dias gloriosos de exército-de-um-homem-só. Basta que seus problemas pessoais se confundam com o interesse público em "Duro de Matar 4.0".
E ponha interesse público aí: a ameaça com que McClane (Bruce Willis, mais McClane do que nunca) é obrigado a lidar corresponde à soma de todos os medos - um colapso nos sistema de energia, de informação, de abastecimento e de segurança que transformaria o país em uma imensa New Orleans depois da tragédia do Katrina.
Como é que ele se envolve nessa? Primeiro, porque é um detetive cumpridor dos seus deveres: ao buscar um hacker (Justin Long) em casa para entregá-lo ao FBI, seu caminho cruza com o de um imenso plano terrorista orquestrado por um gênio digital (Timothy Olyphant).
Depois, porque a dedicação obsessiva ao caso provocará uma ramificação até sua filha (Mary Elizabeth Winstead), que não se chama McClane à-toa. Acrescente-se ao pacote uma vilã oriental (a estrela asiática Maggie Q) e capangas do supervilão que falam francês para temperar a salada multicultural que acompanha a ação.

Violência lúdica
Ação que é espetacular, no sentido incessante e barulhento que se aplica às superproduções de aventura dos últimos anos mas que também se reveste do cinismo característico do protagonista e de certa maneira de levar as coisas na brincadeira: as piadas que "relativizam" a violência querem inscrevê-la em esfera gráfica e lúdica.
"Duro de Matar 4.0" é mais um filme com alma de videogame, eficiente no gênero, matematicamente habilidoso na sedução de platéias jovens, repleto de referências à cultura pop e, sobretudo, à era digital, com as quais lida muito à vontade (equivale a dizer, também com cinismo) o diretor Len Weiseman (da série "Anjos da Noite -Underworld") e o roteirista Mark Bomback ("O Enviado").
A natureza intempestiva de McClane, por sua vez, se presta bem a um humor que contrapõe a sabedoria dos mais velhos à presunção dos mais novos, e contrasta um mundo ainda analógico com a nova ordem virtual. A pergunta que não quer calar: onde estava McClane em 11 de setembro de 2001?


DURO DE MATAR
Produção:
EUA, 2007
Direção: Len Wiseman
Com: Bruce Willis, Timothy Olyphant e Maggie Q
Quando: em cartaz nos cines Bristol, Eldorado e circuito
Avaliação: bom


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