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Cinema/estréias - Crítica/"Duro de Matar 4.0"
Superprodução tem alma de videogame
Filme é matematicamente habilidoso na sedução de platéias jovens, repleto de referências à cultura pop e à era digital
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Os EUA não estão muito
interessados em John
McClane, agora um
cansado detetive, convenientemente escondido em uma delegacia de polícia de Nova York.
John McClane também não está interessado nos destinos dos
EUA. Pai ausente, disposto a tirar o atraso, quer saber (e controlar) o que a filha anda fazendo à noite.
Na melhor tradição do voluntarismo norte-americano, esse
policial semi-aposentado troca
o pijama por um breve e agitado retorno a seus dias gloriosos
de exército-de-um-homem-só.
Basta que seus problemas pessoais se confundam com o interesse público em "Duro de Matar 4.0".
E ponha interesse público aí:
a ameaça com que McClane
(Bruce Willis, mais McClane do
que nunca) é obrigado a lidar
corresponde à soma de todos os
medos - um colapso nos sistema de energia, de informação,
de abastecimento e de segurança que transformaria o país em
uma imensa New Orleans depois da tragédia do Katrina.
Como é que ele se envolve
nessa? Primeiro, porque é um
detetive cumpridor dos seus
deveres: ao buscar um hacker
(Justin Long) em casa para entregá-lo ao FBI, seu caminho
cruza com o de um imenso plano terrorista orquestrado por
um gênio digital (Timothy Olyphant).
Depois, porque a dedicação
obsessiva ao caso provocará
uma ramificação até sua filha
(Mary Elizabeth Winstead),
que não se chama McClane à-toa. Acrescente-se ao pacote
uma vilã oriental (a estrela
asiática Maggie Q) e capangas
do supervilão que falam francês
para temperar a salada multicultural que acompanha a ação.
Violência lúdica
Ação que é espetacular, no
sentido incessante e barulhento que se aplica às superproduções de aventura dos últimos
anos mas que também se reveste do cinismo característico do
protagonista e de certa maneira de levar as coisas na brincadeira: as piadas que "relativizam" a violência querem inscrevê-la em esfera gráfica e lúdica.
"Duro de Matar 4.0" é mais
um filme com alma de videogame, eficiente no gênero, matematicamente habilidoso na sedução de platéias jovens, repleto de referências à cultura pop
e, sobretudo, à era digital, com
as quais lida muito à vontade
(equivale a dizer, também com
cinismo) o diretor Len Weiseman (da série "Anjos da Noite
-Underworld") e o roteirista
Mark Bomback ("O Enviado").
A natureza intempestiva de
McClane, por sua vez, se presta
bem a um humor que contrapõe a sabedoria dos mais velhos
à presunção dos mais novos, e
contrasta um mundo ainda
analógico com a nova ordem
virtual. A pergunta que não
quer calar: onde estava McClane em 11 de setembro de 2001?
DURO DE MATAR
Produção: EUA, 2007
Direção: Len Wiseman
Com: Bruce Willis, Timothy Olyphant e Maggie Q
Quando: em cartaz nos cines Bristol,
Eldorado e circuito
Avaliação: bom
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