São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2007

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Crítica/MPB

Chico ao vivo abre frestas para a imperfeição

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Chico Buarque é o mais perfeito compositor brasileiro. Por perfeito entenda-se flertar pouco com "impurezas" sonoras e poéticas inerentes à cultura de massa e criar canções límpidas com rimas riquíssimas e melodias rebuscadas -embora de aparência simples.
O CD duplo e o DVD "Carioca ao Vivo", frutos da turnê agosto 2006-maio 2007, desafiam (ou reforçam?) essa perfeição ao abrir frestas para a imperfeição. Chico renegou o expediente comum dos discos ao vivo e não voltou ao estúdio para retocar a voz, limitando-se a refazer dois assobios.
É possível, sobretudo no CD, perceber a voz vibrando em falso no final de "Dura na Queda" ou num trecho de "Ela Faz Cinema". No DVD, a direção de André Horta não se constrange em dar grandes closes no rosto de Chico, ressaltando os olhos ardósia mas também as rugas dos (agora) 63 anos e, assim, desafiando (ou reforçando?) um pouco o coro das contentes que gritam "lindo!".
Além de ser "o primeiro registro integral de um show do artista", como aponta a divulgação, é também o retrato mais cru que já se fez dele em cena. Se o DVD anterior, "Chico e as Cidades" (2001), unia documentário com planos complexos de uma apresentação para convidados, agora não há nada mais do que um show para público comum (no Tom Brasil, em outubro passado), no qual as câmeras se concentram em detalhes, dando quase tanta importância aos sete músicos da banda do que ao "vocalista".
Há horas em que parece a filmagem de um concerto de jazz. O que sobressai, portanto, é a música. Na verdade, 33 músicas executadas na íntegra e costuradas por uma linha sutil, mas prazerosamente visível: o abrir e fechar com músicas "de estrada" ("Mambembe" e "Na Carreira"); as mulheres poderosas do bloco "Mil Perdões"/ "A História de Lily Braun"/"A Bela e a Fera"; as etéreas de "Bolero Blues" e "As Vitrines"; o peso de "Palavra de Mulher" seguido da leveza de "Leve"; e o Rio em vários contornos, como nas dobras de "Subúrbio", "Morro Dois Irmãos" e "Futuros Amantes", interpretadas em seqüência.
Há pequenas diferenças do DVD para o CD, já que este conta com pedaços de um show no Canecão, no Rio -como o "uh-uh" de "Morena de Angola". E o DVD vem sem as letras no encarte, o que é uma pena.


CARIOCA AO VIVO
Gravadora:
Biscoito Fino
Quanto: R$ 35 (CD duplo) e R$ 39 (DVD)
Avaliação: bom


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