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Livro reúne posts polêmicos do blog de José Saramago
Textos para a internet do escritor português, que atacam Silvio Berlusconi, Bush e Sarkozy, ganham edição brasileira
Editora do autor na Itália gerou controvérsia ao se recusar a publicar volume "O Caderno", a nova coletânea de textos do prêmio Nobel
Carlos Alvarez - 3.mar.09/Getty Images
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O escritor português José Saramago fala sobre sua obra
numa
entrevista coletiva em Madri
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Caderno" (Companhia
das Letras, 224 págs., R$ 45) é,
de certa forma, uma contradição em termos. Quem quiser
consultar o blog do escritor José Saramago pode acessar diretamente na internet o endereço
caderno.josesaramago.org.
Então qual é o sentido de reunir em livro seus posts escritos
entre setembro de 2008 e março de 2009? Os textos são os
mesmos, a ordem cronológica
permanece, não há apêndices.
Mas, como Saramago é Saramago, a publicação virou um
acontecimento e gerou polêmica que correu o mundo, por
conta das impertinências do
autor contra políticos. A crítica
que detonou a crise teve como
alvo o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.
No texto "Berlusconi & Cia.",
Saramago escreveu: "Na terra
da máfia e da camorra, que importância poderá ter o facto
provado de que o primeiro-ministro seja um delinquente?".
Até aí, a provocação seria
apenas mais uma entre tantas
que se multiplicam sem consequências pela internet. Mas a
Einaudi, que pertence a Berlusconi e publica Saramago na
Itália, se recusou a publicar "O
Caderno", que inclui esse post.
Saramago reagiu, e a polêmica
atraiu a imprensa, lembrando a
censura branca que "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" sofreu em Portugal, episódio emblemático em sua carreira.
Agora, depois de dar entrevistas indignadas e escrever artigos duros, inclusive no espanhol "El País", Saramago minimiza o episódio. Em entrevista
por e-mail à Folha, disse que
os dois incidentes "são casos
diferentes". Segundo ele, "em
Portugal, a decisão foi do governo, na Itália foi a própria
editora que, por temor às consequências, resolveu não publicar. De certa maneira, a editora
foi mais papista que o papa".
Isso não quer dizer que tenha mudado de opinião: "Que
[Berlusconi] promove a corrupção, toda a gente o sabe.
Quanto a ser comparável, no
seu comportamento, a um "capo" da máfia, é uma opinião
pessoal minha, de que, evidentemente, se pode discordar.
Mas os fatos são eloquentes e
permitem as piores comparações. Os escândalos [sobre sua
relação com garotas de programa] provam o pouco caso que
Berlusconi faz das funções que
exerce como primeiro-ministro, salvo quando estão em causa os seus interesses".
Bush e Sarkozy
O veto da editora italiana a
"O Caderno" certamente não
afetará a difusão de Saramago
no país ("mais de 30 editoras da
Itália se ofereceram para publicar o livro"). Berlusconi não é o
único alvo. George W. Bush
("inteligência medíocre, ignorância abissal") e Nicolas Sarkozy ("irresponsável") também
despertaram adjetivos no autor, assim como a esquerda
("continua sem ter uma puta
ideia do mundo em que vive").
Quando Saramago lançou
seu blog, muito se especulou
sobre as implicações dessa produção em sua literatura. Qual a
sua opinião? "A internet nem
estimula nem atrapalha. São
dois campos diferentes. A internet poderia desaparecer que
eu continuaria com o meu trabalho, sem lhe sentir a falta."
Isso não quer dizer que despreze a repercussão do blog:
"Realmente surpreendeu-me.
A penetração é enorme".
Os textos reunidos em "O Caderno" permitem compreender as motivações de Saramago
e, especialmente, sua relação
próxima com o Brasil. Os textos
coincidem com sua última viagem ao país, quando começou a
escrever seu próximo romance,
que ainda não tem título e será
lançado até o final do ano.
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