São Paulo, terça-feira, 03 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Formação de jovens deixou de fora o "samba duro" de Zeca

LUIZ FERNANDO VIANNA
DO RIO

Embora um tanto vagas, as frases de Zeca Pagodinho reabrem um mal-estar que parecia esquecido.
Quando uma nova geração de intérpretes começou a surgir na Lapa carioca, no final da década de 90, era praticamente impossível ouvi-los cantando a turma de Zeca -Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Fundo de Quintal.
Fascinados pela descoberta dos antigos sambistas, eles privilegiavam os mestres ligados a escolas de samba (Cartola, Candeia, Dona Ivone Lara), à Lapa (Wilson Batista, Geraldo Pereira), à tradição do samba urbano (Noel Rosa, Ary Barroso), chegando no máximo a Paulinho da Viola e João Nogueira.
Depois de se formarem nessa escola, alguns deles pularam para compor os próprios sambas, caso da pioneira Teresa Cristina.
Um ou outro -até mais de São Paulo do que do Rio- pode torcer o nariz para o sucesso de Zeca e para a produção industrial de Arlindo, vendo-os como comerciais. Mas não é o caso da maioria.
O chamado pagode surgiu no início dos anos 80, na quadra do bloco Cacique de Ramos, a partir de rodas feitas após jogos de futebol nas quais o alvo principal era a empolgação.
Como ninguém, a princípio, planejava construir carreira, havia espaço para novidades como o repique de mão (por Ubirany, um dos criadores do Fundo de Quintal), o tantã (por Sereno) e o banjo com afinação de cavaquinho (por Almir Guineto), que contribuíram para reincendiar o samba, não só acelerando um pouco o andamento mas revitalizando o partido-alto -os versos improvisados, as rodas, os desafios.
A maioria dos jovens, não suburbanos, prefere algo mais suave, mais salão do que quintal, não o "samba duro" que Zeca exalta.


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