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MÚSICA
Banda formada por três garotas e um rapaz tenta furar o bloqueio governamental da China e lançar terceiro disco
Punk chinês emerge com Hang on the Box
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Após Atenas, os olhos viram-se
para Pequim. Para a música de
Pequim. Demorou bastante, mas
o punk chegou à China e hoje é representado mais fortemente pelo
Hang on the Box, grupo formado
por um trio de garotas mais um
garoto que, após uma tortuosa
trajetória -que bateu de frente
até com o governo chinês-, tenta
lançar mundialmente seu novo
álbum -o terceiro.
Se não é fácil fazer e viver de
rock no Brasil, muito menos o é
na China. Com dois discos lançados no escasso mercado de rock
de seu país ("Yellow Banana", de
2001, e "Di, Di, Di", de 2003) e
uma coletânea produzida exclusivamente para a Europa ("For
Every Punk Bitch and Arsehole",
do ano passado), o Hang on the
Box luta para fechar contrato com
alguma gravadora que encampe o
próximo CD, ainda sem título.
Por e-mail, a Folha conversou
com Wang Yue (líder e vocalista,
a mais "rebelde" do grupo), Gan
Xin Pu (guitarrista, único homem
no grupo), Yi Lina (baixista) e
Shen Jing (baterista) sobre a situação da banda e da juventude roqueira chinesa.
"Mais e mais jovens estão ouvindo rock and roll, mas o comportamento deles e o jeito de se
vestirem são muito "modernos"
na visão do governo. Hoje está
mais fácil ter acesso a informações sobre rock e cultura jovem,
por meio da internet e de várias
revistas", contou Wang Yue, 25.
"Há alguns lugares para tocar e
emissoras de rádio, a cena até que
não está tão ruim. Pequim é o
centro da nova cultura na China, e
a verdade é que vivendo aqui você
não precisa ter um emprego fixo
para ter uma vida excitante", diz
Shen Jing, 22.
A história do Hang on the Box
invariavelmente se embaralha
com a história do rock em seu
país. De 1976, o punk foi bater em
Pequim em 1996, quando artistas
e bandas de nome Gao Yang,
Liang Wei e Brain Failure, inspirados pelo Nirvana de Kurt Cobain -que começava a aparecer
na China-, passaram a tocar em
pequenos bares da capital.
Naquele ano, foi inaugurado o
que seria a base para o "movimento": o clube Scream, onde
gente como Hang on the Box e
Reflector se apresentavam e trocavam informações.
O Hang on the Box logo se destacou no cenário. As causas eram
tanto as meninas quanto as músicas (cantadas em inglês) gritadas
e espalhafatosas, de títulos como
"Bitch" (Vagabunda), "Asshole,
I'm Not Your Baby" (Babaca, Eu
Não Sou Sua Menina) e "You Lost
Everything But It's Not My Fault"
(Você Perdeu Tudo, Mas Não É
Minha Culpa).
"Gravar e lançar músicas com
esses nomes foi bastante difícil",
diz Wang Yue. "Nossos dois álbuns venderam bem. A compilação também. Fazemos uma média de dois shows por mês e já excursionamos nos EUA e Japão."
Difícil também foi a recepção
que as garotas tinham em alguns
shows, até há dois ou três anos.
Houve casos em que elas foram
agredidas no palco, só por serem
garotas tocando rock. "Isso acontecia, mas nós continuamos juntas e enfrentamos, por isso acho
que nós somos as garotas mais corajosas na China", diz Wang Yue.
"Agora a situação mais difícil é arranjar um lugar para ensaiar. Nós
não temos dinheiro para ficar alugando estúdios", conta Yi Lina.
A principal turnê do grupo
aconteceu em março de 2003,
quando eles foram escalados para
o festival South by Southwest, no
Texas. No começo deste ano, eles
foram convidados para participar
da "New World Disorder Tour",
no Reino Unido. Mas o Hang on
the Box não obteve permissão para deixar a China, segundo o divulgado na época, porque eles
não "representavam adequadamente a cultura chinesa". Mas hoje a banda nega essa versão. "Não
houve nada com o governo."
No final do ano passado, a banda não renovou contrato com a
gravadora japonesa Benten
-que impulsionava a carreira internacional do Hang on the
Box-, pois não seria vantajoso
para o grupo.
Agora, com bandas como Clash,
Velvet Underground, Belle & Sebastian, Liars e Soulwax em seus
disc-players, eles correm atrás de
um novo selo, pois a prioridade,
segundo Wang Yue, não é o mercado chinês.
"Nossa música é indie, pós-punk e até free jazz. Claro que vamos nos concentrar em tentar
carreira internacional. A China
necessita de um tempo até poder
aceitar artistas como nós. A China
não precisa da gente; o mundo
precisa."
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