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MÚSICA
Banda nova-iorquina formada nos anos 70 se apresentará em outubro no Rio e em SP; líder faz crítica a grupos atuais
Formação clássica da banda Television vem ao Brasil
THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Não muita gente conhece o Television, mas eles estão em todo
lugar. Estão nas guitarras desconstruídas do Sonic Youth, nas
notas sincopadas e garageiras dos
Strokes, nos solos improvisados
do Queens of the Stone Age, na
crueza de PJ Harvey...
Television é banda que surgiu
na mais criativa leva de bandas de
Nova York, no começo dos anos
70. Fizeram o primeiro show na
histórica casa CBGB, em 1974. Por
aquela porta, passaram Ramones,
Talking Heads, Blondie...
O grupo era liderado por Tom
Verlaine, guitarrista e vocalista, e
tinha também Billy Ficca (bateria), Richard Lloyd (guitarra) e
Richard Hell (baixo), que logo
deixaria a banda para formar os
Heartbreakers com Johnny
Thunders; em seu lugar, entrou
Fred Smith... E é essa clássica formação que vai ao Brasil no Tim
Festival, no MAM do Rio, em 23
de outubro, e no Sesc Pompéia,
em São Paulo, em 25 e 26/10.
Verlaine e Lloyd são guitarristas
distintos: técnicos, mas não virtuosos; tocam como se fossem
jazzistas, improvisando notas e
estendendo solos. Não à toa, The
Edge, do U2, disse certa vez: "Verlaine é o único guitarrista que
realmente diz algo musicalmente.
Ele rasga todas as regras".
A música do Television é abrangente e sofisticada, mas teve carreira (quase) curta: lançaram dois
álbuns nos anos 70, o ultraclássico
"Marquee Moon" (77) e o clássico
"Adventure" (78). Depois, o grupo se separou, e Verlaine seguiu
inconstante carreira solo. A banda voltou no início dos 90, e lançou o irregular "Television" (92).
A partir dali, passaram a fazer entre 15 e 50 shows por ano, como
uma elogiada temporada londrina no mês passado. Além disso,
Verlaine também faz alguns
shows com Patti Smith, com
quem namorou nos anos 70 (ele
tocou guitarra em "Horses").
Verlaine, ou Thomas Miller,
nascido em Morris, Nova Jersey,
fã de poesia -emprestou o sobrenome do francês Paul Verlaine
(1844-1896)-, conversou com
jornalistas brasileiros anteontem
à tarde, em um hotel de Lisboa.
Pergunta - Como será o repertório dos shows no Brasil? Tocarão
músicas novas?
Tom Verlaine - Depende de
quantos bootlegers [pessoas que
gravam os shows para lançar gravações piratas] estão na audiência. Se há muitos, não tocamos
músicas novas... Mas normalmente, quando nos apresentamos
em lugares que nunca fomos antes, tocamos mais as canções antigas. Devemos lançar um novo
disco no ano que vem, estamos
com seis canções novas.
Pergunta - O que o estimula a fazer música hoje? É possível manter
a mesma energia do começo?
Verlaine - Não sei, apenas gosto
de tocar. Não me lembro de como
era estar no palco há 30 anos. Mas,
claro, nas bandas novas há mais
energia física, os músicos pulam,
correm. Mas nunca fizemos isso
nem quando estávamos começando. Somos uma banda velha,
de caras que gostam de jazz.
Pergunta - Vocês lançaram dois
discos nos anos 70, terminaram e aí
lançaram outro nos anos 90 e passaram a fazer turnês. O que houve?
Verlaine - Foi há tanto tempo,
não interessa muito. Além disso,
muitas das pessoas que vão nos
assistir hoje nem eram nascidas
nos anos 70, então mesmo se falássemos sobre aquela época, não
haveria nada útil para alguém
nascido nos anos 80. E não acho
que a história do rock seja importante, pois rock é uma coisa muito
específica de cada época. Uma
coisa interessante é que nossa
banda é a única de nossa área [a
Nova York dos anos 70] que está
com a mesma formação; não sei
como conseguimos isso. Talvez
porque ficamos sem tocar por
mais de dez anos...
Pergunta - O Television sempre
foi colocado na mesma turma de
Ramones, Talking Heads, mas o
som da banda era diferente, havia
influência de jazz, improvisação...
Verlaine - Sim, costumamos improvisar bastante, nunca tocamos
o mesmo solo duas vezes. Isso é
uma distinção. Sempre há conexões entre bandas com duas guitarras e uma bateria, mas como
improvisávamos bastante e não
seguíamos o que os outros grupos
faziam, isso nos colocava à parte.
Pergunta - No festival vocês tocarão com os Strokes. Muita gente diz
que os Strokes copiam riffs do Television. Você concorda?
Verlaine - Não acho que eles sejam tão bons para nos copiar...
Acho que essa geração que cresceu ouvindo pop e rock na televisão 24 horas por dia, eles parecem
conhecer tudo, mas na verdade
eles não sabem o que fazer. Pegam uma guitarra e a coisa mais
simples que conseguem tirar dali
parece a coisa mais cool do mundo. Às vezes pode ser divertido.
O repórter Thiago Ney viaja a convite
da produção do Tim Festival
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