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Degustação une pratos orientais e vinhos alemães
Cineasta Jonathan Nossiter conduz combinações
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Pode parecer bizarro combinar sushi com vinho alemão.
Mas foi o que procuraram investigar duas refeições/degustações ocorridas na última terça-feira em São Paulo, em que
pratos japoneses foram cotejados com vinhos alemães trazidos pela importadora Mistral e
selecionados pelo sommelier e
cineasta norte-americano Jonathan Nossiter.
Na verdade, a combinação
não é inédita. Especialistas como o inglês Hugh Johnson e
sommeliers franceses há anos a
sugerem. Mas no Brasil ela é rara: seja pela pouca oferta de
grandes vinhos alemães e o hábito quase inexistente de bebê-los; seja pela sua inexistência
nos restaurantes orientais. Pelo menos dois deles agora enfrentam o desafio. A degustação do almoço, fechada, aconteceu no Jun Sakamoto; a do jantar, aberta ao público, foi no
Shintori.
Nossiter, diretor do polêmico
filme "Mondovino", ex-sommelier e consultor de restaurantes de Nova York e Paris, é
um proselitista dos vinhos de
terroir -aqueles que expressam as características dos pequenos locais onde foram produzidos; e vê nos brancos alemães da uva riesling um grande
exemplo das delicadas diferenças que bebidas da mesma uva
ostentam em razão do terroir
onde nasceram (como nos pequenos vinhedos da Bourgogne
e no vale do Mosel, notou Nossiter). Aproveitando a chegada
de vinhos de alguns dos melhores produtores alemães, ele organizou essa prova.
No almoço, Sakamoto propôs
pratos típicos ou que de alguma
forma representam o gosto japonês. Ele serviu ceviche de ostras; tartare de atum com foie
gras; sushi de atum, salmão, linguado, robalo, lula, vieira e ouriço; tempurá de enguia; coquetel de algas marinhas com sake,
ovas de salmão e gengibre; garoupa ao molho de shoyu e gengibre e tempurá de figo.
Para acompanhá-los, uma
seqüência de vinhos (nem todos eram os melhores para cada prato, mas sempre havia pelo menos um muito adequado),
todas de uva riesling. A saber,
Selbach-Oster (do vale do Mosel), Domdechant Werner e
Robert Weil (do Rheingau), Dr.
Bürklin-Wolf (do Pfalz) e Hans
Wirsching.
O que faz desses vinhos da
uva riesling boa companhia para a cozinha oriental, especialmente a japonesa (menos apimentada), é antes de tudo a sua
ótima acidez (sem a qual o vinho ficaria "chato" diante dos
paladares agudos da cozinha
asiática) e ainda a presença
(salvo no caso da Franconia) de
açúcar residual e fruta, contraponto para os condimentos dos
pratos japoneses.
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