São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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Reação química

Prestes a vir ao Brasil e com um elogiado disco lançado recentemente, o Chemical Brothers é o principal nome da geração que popularizou a eletrônica nos anos 90

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre o final dos anos 80 e o começo dos 90, surgiu uma geração de artistas que emprestou à música eletrônica um verniz pop e, assim, levou as batidas sintéticas às massas. Dessa geração, ninguém envelheceu com tanto vigor quanto os Chemical Brothers.
Prodigy, Moby, Fatboy Slim, Orbital, Crystal Method, Underworld, Altern 8. Produtores, duplas e bandas que não existem mais ou já perderam grande parte da dignidade.
O próprio Chemical Brothers parecia um nome já da história.
Seu último disco realmente relevante, "Surrender", era do século passado -1999. Quando vieram os fracos e erráticos "Come with Us" (2001) e "Push the Button" (2005), pensava-se que a dupla formada pelos ingleses Ed Simons e Tom Row-lands nunca mais apareceria com algo como "Hey Boy Hey Girl", "Life Is Sweet" ou "Setting Sun", apenas algumas de suas faixas clássicas.
Em julho, veio a surpresa. "We Are the Night", o sexto disco da dupla, sintetiza novamente as grandes qualidades do chemical brothers, como linhas melódicas criativas, batidas nada enjoativas, energia roqueira e acertadas parcerias.
Depois de trabalhar com Noel Gallagher (Oasis), Bernard Sumner (New Order) e Beth Orton, entre outros, os Chemical Brothers agora chamaram o novo grupo de dance-rock Klaxons, o prodígio folk Willy Mason, a banda indie Midlake e o rapper Fatlip.
Com mais de 9 milhões de discos vendidos na carreira, Simons, 37, e Rowlands, 36, vêm pela terceira vez ao Brasil. Em 7 de novembro, fazem show no Credicard Hall, em SP (informações: www.credicardhall.com.br). Ed Simons falou por telefone à Folha.  

FOLHA - O último disco do Chemical Brothers tem faixas bem diferentes entre si. Onde vocês queriam chegar?
ED SIMONS
- O disco é uma combinação entre o que imaginamos e a habilidade de encontrar os tipos de sons que queremos. As faixas são diferentes variadas porque é assim que encaramos a música, ficamos entediados tocando a mesma coisa por algum tempo. Um disco tem que ter momentos dark, psicodélico, outros dançantes.

FOLHA - Um dos destaques do álbum é a parceria com o Klaxons. A idéia veio de vocês ou deles?
SIMONS
- Nós sempre estamos atrás de gente para fazer essas colaborações, e quando ouvimos o disco do Klaxons, que é ótimo, sabíamos que seria uma boa opção. Nós nos encontramos duas ou três vezes, eles disseram que gostavam de Chemical Brothers, então os convidamos para ir ao estúdio.
Eles entraram com a letra, com algumas idéias. Uma das razões de gostar de Klaxons é que eles me lembram algumas bandas de rock psicodélico, como Pink Floyd.

FOLHA - Esse disco traz também a música mais estranha dos Chemical Brothers, "Salmon Dance". De onde veio a idéia de falar sobre salmão em cima de um rap?
SIMONS
- É uma música engraçada, sim, mas, também muito bonita. Costumamos gravar algumas coisas de cartuns, sons. Tínhamos grande parte da estrutura melódica da música e mandamos para Fatlip [rapper norte-americano]. Então ele nos ligou e disse que iria fazer uma música sobre salmão.
Achei legal porque vai contra o senso de como deve soar uma música do Chemical Brothers ou como deve soar um rap. Além disso, depois de seis álbuns, acho que temos o direito de fazer uma música meio infantil e despreocupada.

FOLHA - O Chemical Brothers existe há quase 15 anos. Duplas novatas como Justice, Digitalism e Simian Mobile Disco estão fazendo sucesso misturando rock com eletrônica. O que você acha desses nomes?
SIMONS
- Não é nada novo misturar dance com rock. Gosto de Justice, de Simian Mobile Disco. Estão fazendo coisas interessantes, mas não há muito o que dizer. New Order, A Certain Ratio e Talking Heads já faziam canções com groove, eletrônicas e sensibildiade roqueira nos anos 80.

FOLHA - Depois da popularização da eletrônica nos anos 90, o gênero foi muito criticado por ter perdido terreno para o rock, por exemplo. Você concorda com essa visão?
SIMONS
- Nos anos 90, a dance music tornou-se uma indústria, e provavelmente isso não fez muito bem num primeiro momento. Mas a dance music continua fazendo parte importante da vida dos jovens. No início dos anos 2000, o White Stripes apareceu e todo o mundo voltou-se para esse jeito tradicional de fazer música. Eu nunca pensei dessa maneira, de ter de escolher entre um e outro.

FOLHA - No último disco, parece haver influência de selos como Kompakt e Get Physical, do minimalismo alemão. Concorda?
SIMONS
- Sim, Get Physical, Kompakt e DJs como Gabriel Ananda estão fazendo coisas fantásticas. Por muito tempo as novidades vieram de Detroit e Chicago. Houve uma época que era da França. Agora, é a música vinda da Alemanha. Isso teve influência no disco.


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