São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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comentário

Songbook revela detalhes cruciais de composições

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Que Vinicius seja o letrista de "Chega de Saudade", "Garota de Ipanema", "Canto de Ossanha", "Valsinha" e "O Filho que Eu Quero Ter" (para ficar só nessas) já é o bastante para fazer dele um dos maiores poetas da canção brasileira. Que seja o autor de "Valsa de Eurídice", "Serenata do Adeus", "Medo de Amar" e "Pela Luz dos Olhos Teus", entre outras, faz dele também um compositor antológico, só menos conhecido porque nem todo mundo sabe que essas canções são de sua autoria: letra e música.
Todas estão incluídas no "Cancioneiro Vinicius de Moraes", que reúne 57 partituras representativas do mundo musical de Vinicius. Faz quase 50 anos -desde o milagre de "Orfeu da Conceição", que inaugurou a parceria Tom-Vinicius- que esse vem sendo o nosso mundo, sucessivamente reinventado à medida que Vinicius vai fazendo sua obra, sozinho ou em parceria com Tom, Carlos Lyra, Baden Powell, Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime, Toquinho (para ficar nos mais assíduos).
"Como letrista, Vinicius não conheceu limites [...] reinventando-se e reinventando gêneros com total desenvoltura", escreve Eucanaã Ferraz, em sua elegante introdução. Se a canção se tornou um dos maiores patrimônios do Brasil, isso se deve em boa medida à presença fulgurante de Vinicius. O que só não é uma verdade óbvia porque, de tão natural, acaba passando despercebida, como o céu e as águas.
Grafadas com o mesmo apuro já evidenciado no "Cancioneiro Jobim", as partituras revelam pequenos e cruciais detalhes, como o dó bequadro no início de "Minha Namorada" ("se você quer ser minha namorada"), ou as harmonias ambíguas de "Medo de Amar" e o mapa modulatório de "Pela Luz dos Olhos Teus" -duas coisas que só podem ter sido um presente de Tom para Vinicius, no mesmo espírito das ofertadas harmonias de "Valsa de Eurídice".
Elas servem de emblema para uma verdade do poeta que o "Cancioneiro" traz agora como nunca à luz dos olhos nossos. Como letrista, ele foi, sem dúvida, um dos maiores nomes da lírica amorosa de todos os tempos. Como parceiro, viveu como poucos o dom da amizade, recriando-se a si mesmo e aos outros, em forma de canção. E se de certo modo todos nós somos também parceiros de Vinicius, isso nos explica e nos justifica, enquanto leitores e ouvintes do melhor que o país já fez.


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