|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
comentário
Songbook revela detalhes cruciais de composições
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Que Vinicius seja o letrista de "Chega de
Saudade", "Garota
de Ipanema", "Canto de Ossanha", "Valsinha" e "O Filho
que Eu Quero Ter" (para ficar só nessas) já é o bastante
para fazer dele um dos maiores poetas da canção brasileira. Que seja o autor de "Valsa
de Eurídice", "Serenata do
Adeus", "Medo de Amar" e
"Pela Luz dos Olhos Teus",
entre outras, faz dele também um compositor antológico, só menos conhecido
porque nem todo mundo sabe que essas canções são de
sua autoria: letra e música.
Todas estão incluídas no
"Cancioneiro Vinicius de
Moraes", que reúne 57 partituras representativas do
mundo musical de Vinicius.
Faz quase 50 anos -desde o
milagre de "Orfeu da Conceição", que inaugurou a parceria Tom-Vinicius- que esse
vem sendo o nosso mundo,
sucessivamente reinventado
à medida que Vinicius vai fazendo sua obra, sozinho ou
em parceria com Tom, Carlos Lyra, Baden Powell, Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime, Toquinho (para ficar nos mais assíduos).
"Como letrista, Vinicius
não conheceu limites [...]
reinventando-se e reinventando gêneros com total desenvoltura", escreve Eucanaã Ferraz, em sua elegante
introdução. Se a canção se
tornou um dos maiores patrimônios do Brasil, isso se
deve em boa medida à presença fulgurante de Vinicius.
O que só não é uma verdade
óbvia porque, de tão natural,
acaba passando despercebida, como o céu e as águas.
Grafadas com o mesmo
apuro já evidenciado no
"Cancioneiro Jobim", as partituras revelam pequenos e
cruciais detalhes, como o dó
bequadro no início de "Minha Namorada" ("se você
quer ser minha namorada"),
ou as harmonias ambíguas
de "Medo de Amar" e o mapa
modulatório de "Pela Luz
dos Olhos Teus" -duas coisas que só podem ter sido um
presente de Tom para Vinicius, no mesmo espírito das
ofertadas harmonias de
"Valsa de Eurídice".
Elas servem de emblema
para uma verdade do poeta
que o "Cancioneiro" traz
agora como nunca à luz dos
olhos nossos. Como letrista,
ele foi, sem dúvida, um dos
maiores nomes da lírica
amorosa de todos os tempos.
Como parceiro, viveu como
poucos o dom da amizade,
recriando-se a si mesmo e
aos outros, em forma de canção. E se de certo modo todos
nós somos também parceiros de Vinicius, isso nos explica e nos justifica, enquanto leitores e ouvintes do melhor que o país já fez.
Texto Anterior: Trecho Próximo Texto: Música: Tim Festival inicia a venda de ingressos em várias cidades Índice
|