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Moacir dos Anjos quer Bienal política
O curador da 29ª Bienal de São Paulo, prevista para começar em setembro de 2010, fala de seus planos para a mostra
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um evento político e capaz
de mudar o modo como se experimenta o mundo. Essa é a
pretensão da 29ª Bienal de São
Paulo, de acordo com seu curador-geral, o pernambucano
Moacir dos Anjos, 43. A mostra
está marcada para ser aberta
em setembro do ano que vem.
Sem considerar o projeto
ambicioso demais, Anjos afirma que ele mesmo é um exemplo da capacidade de mudança
promovida pela arte: "Esse é
um "statement" curatorial absolutamente sincero, porque é a
minha própria história".
Durante a realização de um
doutorado em Londres, entre
1990 e 1994, Anjos, então economista, visitou frequentemente exposições e mostras.
O contato com a arte alterou
o rumo de sua carreira, já que o
até então funcionário do Instituto de Pesquisas Sociais da
Fundação Joaquim Nabuco, no
Recife, conseguiu ser transferido para uma recém-criada diretoria de arte na instituição, no
ano de 1998.
Em dez anos, Anjos realizou
uma carreira meteórica nas artes plásticas, culminando, há
dois meses, com a indicação de
curador da 29ª Bienal, a mostra
de arte mais importante do país
e uma das mais reconhecidas
em todo o mundo.
Anteontem, pela primeira
vez, Anjos começou a ocupar o
pavilhão da Bienal. Ainda sem
sala e tendo de se apresentar
aos porteiros para poder entrar, ele recebeu a Folha para
uma entrevista, que já tinha sido iniciada pela internet (leia a
íntegra na Folha Online em
www.folha.com.br/092452).
A questão política da mostra,
contudo, não quer ser panfletária. A reação a um dos grandes
impactos que Anjos teve com a
arte, numa exposição do alemão Anselm Kiefer, no Museu
de Arte Moderna de São Paulo,
em 1998, aponta como o curador relaciona arte e estética.
"Não há texto ou elaboração
discursiva quaisquer capazes
de proporcionar o que senti naquela mostra, onde a dor da
guerra era abordada de modo
direto sem ser meramente ilustrativa e era, talvez até por isso,
transformada em uma questão
que importa a todos."
Essa abertura está presente
no título da mostra, "Há Sempre um Copo de Mar para um
Homem Navegar", que tem Agnaldo Farias como cocurador,
anunciado anteontem.
"Esse é um verso do poeta
Jorge de Lima que afirma como
a dimensão utópica da arte está
contida nela mesma e não no
que está fora ou além dela", diz
o curador.
Revisão da história da arte
Mesmo após tantas críticas
ao modelo agigantado da Bienal, realizadas em seminários
da última edição do evento, será mantido um grande número
de artistas, cerca de 150, privilegiando a produção brasileira.
"Não será mostrar por mostrar, mas queremos reavaliar a
história da arte brasileira, essa
visão de que tivemos uma arte
política nos anos 1960 e 1970,
enquanto tudo depois seria
descompromissado", avalia ele.
Para tanto, Anjos pretende
apresentar trabalhos históricos
de artistas brasileiros. Mesmo
sem nomes definidos, o curador aponta a "Experiência nº
2", a performance de Flavio de
Carvalho (1899-1973), feita em
1931, como um dos exemplos
do que procura apresentar.
"É um paradigma da possibilidade de se pensar a relação
entre arte e política de uma maneira mais ampla e relevante."
Dos anos 1980, o curador
aponta Nuno Ramos e Rosângela Rennó como artistas que
seguem a mesma linha.
"Mesmo quando não tematizam a política, [o trabalho deles] nos faz olhar o que está à
nossa volta de um modo diferente; e se a arte faz isso, é evidente que ela faz política."
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