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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

ROCK OU MPB?

Unindo tradições distintas, banda faz show hoje no DirecTV Hall

Emoção volta ao pop pelas barbas de Los Hermanos

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Diz a crença popular que dois raios nunca caem no mesmo lugar. No caso da banda Los Hermanos, essa teoria se prova totalmente furada.
As duas cabeças escondidas atrás das volumosas barbas dos Hermanos, Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo, são dois dos melhores compositores da nova geração e letristas como há muito não se vê no rock brasileiro, pelo menos desde Cazuza (1958-1990) e Renato Russo (1960-1996).
Assim como os líderes do Barão Vermelho e do Legião Urbana, Amarante e Camelo conseguem driblar a maior dificuldade de quem compõe rock em português e fazem letras que têm uma fluência natural e emocionam sem ser piegas nem cair no lugar-comum.
É só ouvir as 15 músicas de seu disco mais recente, "Ventura" - que tem show de lançamento hoje à noite no DirecTV Music Hall, em São Paulo-, para perceber que a banda está madura e atravessa a sua melhor fase.
"Em nosso curto tempo de carreira, passamos por tantos altos e baixos. Tocamos para públicos muito grandes depois do primeiro disco e para pouca gente depois", diz Camelo, 25, referindo-se ao sucesso gigantesco do hit pós-adolescente "Anna Julia", de 1999, e dos fãs afugentados pelo belo e barroco "O Bloco do Eu Sozinho", de 2001, que não trazia nenhum hit de fácil digestão. "Mas agora o que tem acontecido nos últimos shows é que as pessoas que vão têm muito envolvimento com a banda e cantam todas as músicas do início ao fim."
Esse magnetismo que a banda exerce sobre o público pode ser explicado pela forma com que ela consegue unir e dar peso igual a duas tradições distintas, a do rock independente, de grupos como Smiths e Weezer, e a da música popular brasileira, sem soar reverencial a nenhuma delas.
"Quem mexe com arte não tem na cultura um adereço para si. Tem na cultura a sua matéria-prima. Ouvir música sem preconceito, sem achar aquilo melhor ou pior do que o resto é fundamental no nosso caso. É por isso que a gente faz música sem reverência", diz Camelo, explicando como os elementos da MPB entram na música do Hermanos desde que a banda foi formada.
"Desde o começo a gente usou coisas da música brasileira, a capa do nosso primeiro disco é um clóvis, um tipo do Carnaval de rua."
Mas é inegável que esses laços com a MPB ainda estavam muito frouxos no primeiro disco e foram acentuados em "O Bloco do Eu Sozinho" e, agora, em "Ventura", principalmente em canções como "Samba a Dois" e na buarquiana "A Outra", em que Camelo se arrisca no território do eu lírico feminino, quase um tabu para o universo roqueiro, que transborda testosterona.
Outra pista da crescente proximidade dos Hermanos com a MPB são as três faixas compostas por Camelo que Maria Rita gravou em seu recém-lançado disco de estréia. Contudo, mesmo com todos os elogios que essas composições receberam na voz da filha de Elis, elas não devem afastá-lo da banda, como é de especular.
"Fiz essas músicas para a banda, e a gente acabou não escolhendo no repertório. Minha prioridade de composição ainda é a banda. Mas é claro que se tiver a oportunidade de trabalhar de novo com a Maria Rita vai ser um prazer imenso. É maravilhoso ouvir as músicas com um arranjo diferente, com uma voz daquelas cantando", diz Camelo, para quem os arranjos do disco de Maria Rita não estão muito distantes do som que os Hermanos buscam.
"Achei muito boa a idéia de fazer o disco [de Maria Rita] retomando o lance dos trios de acompanhamento. É bonito, é apostar na simplicidade. E, nesse sentido, parece muito com a gente."
Isso porque Camelo vê nos últimos discos um processo de desaceleração e de busca da simplicidade depois de o "Bloco".
"O "Bloco" foi a primeira vez de a gente poder fazer um disco mesmo. Ele é mais afoito, as coisas são mais numerosas e ele é mais cheio de firulas. "Ventura" é um passo para a simplicidade. Aposta na ausência das coisas", diz.
Mas, quem ouve a banda ao vivo, com seus belos arranjos, pontuados por metais na medida certa e letras arrebatadoras, sabe que o seu som não é tão simples assim.


LOS HERMANOS. Onde: DirecTV Music Hall (av. dos Jamaris, 213, São Paulo). Quando: hoje, às 22h. Quanto: de R$ 40 a R$ 60 (na bilheteria ou pelo telefone 0/ xx/11/6846-6000).


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