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MÚSICA/LANÇAMENTOS
ROCK OU MPB?
Unindo tradições distintas, banda faz show hoje no DirecTV Hall
Emoção volta ao pop pelas barbas de Los Hermanos
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Diz a crença popular que dois
raios nunca caem no mesmo lugar. No caso da banda Los Hermanos, essa teoria se prova totalmente furada.
As duas cabeças escondidas
atrás das volumosas barbas dos
Hermanos, Rodrigo Amarante e
Marcelo Camelo, são dois dos
melhores compositores da nova
geração e letristas como há muito
não se vê no rock brasileiro, pelo
menos desde Cazuza (1958-1990)
e Renato Russo (1960-1996).
Assim como os líderes do Barão
Vermelho e do Legião Urbana,
Amarante e Camelo conseguem
driblar a maior dificuldade de
quem compõe rock em português
e fazem letras que têm uma fluência natural e emocionam sem ser
piegas nem cair no lugar-comum.
É só ouvir as 15 músicas de seu
disco mais recente, "Ventura" -
que tem show de lançamento hoje
à noite no DirecTV Music Hall,
em São Paulo-, para perceber
que a banda está madura e atravessa a sua melhor fase.
"Em nosso curto tempo de carreira, passamos por tantos altos e
baixos. Tocamos para públicos
muito grandes depois do primeiro disco e para pouca gente depois", diz Camelo, 25, referindo-se ao sucesso gigantesco do hit
pós-adolescente "Anna Julia", de
1999, e dos fãs afugentados pelo
belo e barroco "O Bloco do Eu Sozinho", de 2001, que não trazia nenhum hit de fácil digestão. "Mas
agora o que tem acontecido nos
últimos shows é que as pessoas
que vão têm muito envolvimento
com a banda e cantam todas as
músicas do início ao fim."
Esse magnetismo que a banda
exerce sobre o público pode ser
explicado pela forma com que ela
consegue unir e dar peso igual a
duas tradições distintas, a do rock
independente, de grupos como
Smiths e Weezer, e a da música
popular brasileira, sem soar reverencial a nenhuma delas.
"Quem mexe com arte não tem
na cultura um adereço para si.
Tem na cultura a sua matéria-prima. Ouvir música sem preconceito, sem achar aquilo melhor ou
pior do que o resto é fundamental
no nosso caso. É por isso que a
gente faz música sem reverência",
diz Camelo, explicando como os
elementos da MPB entram na
música do Hermanos desde que a
banda foi formada.
"Desde o começo a gente usou
coisas da música brasileira, a capa
do nosso primeiro disco é um clóvis, um tipo do Carnaval de rua."
Mas é inegável que esses laços
com a MPB ainda estavam muito
frouxos no primeiro disco e foram acentuados em "O Bloco do
Eu Sozinho" e, agora, em "Ventura", principalmente em canções
como "Samba a Dois" e na buarquiana "A Outra", em que Camelo se arrisca no território do eu lírico feminino, quase um tabu para o universo roqueiro, que transborda testosterona.
Outra pista da crescente proximidade dos Hermanos com a
MPB são as três faixas compostas
por Camelo que Maria Rita gravou em seu recém-lançado disco
de estréia. Contudo, mesmo com
todos os elogios que essas composições receberam na voz da filha
de Elis, elas não devem afastá-lo
da banda, como é de especular.
"Fiz essas músicas para a banda,
e a gente acabou não escolhendo
no repertório. Minha prioridade
de composição ainda é a banda.
Mas é claro que se tiver a oportunidade de trabalhar de novo com
a Maria Rita vai ser um prazer
imenso. É maravilhoso ouvir as
músicas com um arranjo diferente, com uma voz daquelas cantando", diz Camelo, para quem os arranjos do disco de Maria Rita não
estão muito distantes do som que
os Hermanos buscam.
"Achei muito boa a idéia de fazer o disco [de Maria Rita] retomando o lance dos trios de acompanhamento. É bonito, é apostar
na simplicidade. E, nesse sentido,
parece muito com a gente."
Isso porque Camelo vê nos últimos discos um processo de desaceleração e de busca da simplicidade depois de o "Bloco".
"O "Bloco" foi a primeira vez de a
gente poder fazer um disco mesmo. Ele é mais afoito, as coisas são
mais numerosas e ele é mais cheio
de firulas. "Ventura" é um passo
para a simplicidade. Aposta na
ausência das coisas", diz.
Mas, quem ouve a banda ao vivo, com seus belos arranjos, pontuados por metais na medida certa e letras arrebatadoras, sabe que
o seu som não é tão simples assim.
LOS HERMANOS. Onde: DirecTV Music
Hall (av. dos Jamaris, 213, São Paulo).
Quando: hoje, às 22h. Quanto: de R$ 40 a
R$ 60 (na bilheteria ou pelo telefone 0/
xx/11/6846-6000).
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