|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DA RUA
Meus quatro
tiros
FERNANDO BONASSI
O primeiro é menos que
um calor nas costelas. Susto
à beira do abismo da minha
altura. A gente nunca sabe
os inimigos que tem. Vou
cair. Sobre o segundo penso
que dói. Mas dor não é pensamento e meus joelhos dobram-se contra a vontade.
Toda morte é estúpida. Sou
homem de regras, apesar de
muito macho. O terceiro me
corta o coração. Despenco.
Consigo proteger essa cara
limpa pela gravidade das
coisas que cometi. Minha
mãe ainda vai poder me
chorar no caixão aberto.
Menos mal. Aspiro pó de
calçada. O quarto nem sei,
nem vejo, nem ouço, por
minha misericórdia.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|