São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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DA RUA
Meus quatro tiros

FERNANDO BONASSI

O primeiro é menos que um calor nas costelas. Susto à beira do abismo da minha altura. A gente nunca sabe os inimigos que tem. Vou cair. Sobre o segundo penso que dói. Mas dor não é pensamento e meus joelhos dobram-se contra a vontade. Toda morte é estúpida. Sou homem de regras, apesar de muito macho. O terceiro me corta o coração. Despenco. Consigo proteger essa cara limpa pela gravidade das coisas que cometi. Minha mãe ainda vai poder me chorar no caixão aberto. Menos mal. Aspiro pó de calçada. O quarto nem sei, nem vejo, nem ouço, por minha misericórdia.



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