|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/LANÇAMENTO
Líder da banda Planet Hemp lança seu primeiro disco solo, utilizando apenas samples de MPB
Nós temos que samplear Tom Jobim, diz D2
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Marcelo D2, 30, líder da banda de
rap Planet Hemp, faz a propaganda de seu primeiro disco solo, "Eu
Tiro É Onda", com dois argumentos. Diz que é "o primeiro disco
brasileiro de rap que só usa samples de música brasileira" e se autoproclama: "Eu sou o melhor".
Afirma que seu disco é 50% rap,
50% samba. "Os dois têm linguagens parecidas. Minhas letras parecem as de Bezerra da Silva, Zeca
Pagodinho, Martinho da Vila."
Para construir, num estúdio improvisado em sua própria casa, as
13 faixas do CD, esse não-músico
("É meu terceiro disco e ainda não
sei uma nota musical, é tudo instintivo -me orgulho disso") serviu-se de colagens de Sérgio Mendes, Baden Powell, Vinicius de
Moraes. E de participações do pianista João Donato, do grupo vocal
As Gatas e de Dom Um Romão, ex-baterista de Tom Jobim.
"O Brasil é o único país que tem
seu próprio jazz, a bossa nova. Todo mundo sampleia James Brown.
Quem vai samplear Tom Jobim?
Tem que ser a gente", justifica.
"É mais fácil samplear gringo,
eles estão acostumados. Aqui, nem
sabem o que é sample. Íamos usar
um diálogo do Tom com a Elis Regina, eles dizendo "Vamos prestar
atenção nesta bosta', mas a família
dele não deixou, achou que era falta de respeito."
Outra citação recorrente no álbum é Tim Maia. "Sou fã da atitude
dele. O mundo pop hoje é nojento.
Vocalista de banda parece empresário, só pensa em roupa, em rebolar a bunda na TV para vender disco. A música se perdeu nesse papo
de vender 1 milhão de discos."
D2 não poupa seu colega de gravadora (Sony) Gabriel o Pensador,
de quem parodia o tal rap de "molhar o biscoito": "Sete, oito, tá na
hora de... falar sério", rima, em
"Sessão". "Todo mundo sabe que
não gosto do trabalho do Gabriel.
Ele faz parte desse esquema, apresenta programa da Xuxa e acha
que é inteligente", provoca.
Mas e a história do "Sou o melhor", em que D2 até se parece com
o "Pensador"? "Digo isso porque
sou o melhor", responde. E emenda: "Eu estou é tirando onda, não
estou me elogiando. É pura tiração
de onda, tipo "Eu jogo bola melhor', "Eu como mais minas'. Vou
falar que o Gabriel é o melhor?
Não, eu é que sou".
Afirma que não sofreu qualquer
pressão da gravadora por criticar o
colega. "É claro que não estou na
Sony porque acho ela bonitinha. É
negócio. Mas me deixaram livre.
Sei lá, acho que a gravadora precisa
de um rebelde, entre aspas, até para ser bacana."
Marcelo D2 é um rebelde entre
aspas? "Não sou rebelde nem um
pouco. Não tenho nem a preocupação de ser um artista. Esse é meu
trabalho. Vendi 250 mil cópias
com o Planet, mas não porque tinha a pretensão de vender. Fomos
fazer nosso trabalho. Este novo, espero, vai vender 2 milhões."
Ainda que venda, D2 diz que a
continuidade do Planet Hemp não
corre risco. "Claro que a prisão
(em 97, por suposta apologia ao
uso de maconha) abalou geral. Brigamos pra caramba na cadeia. A
Sony queria um CD do Planet, não
quisemos fazer. Seria marketing
da prisão. Sabemos que todo mundo vai achar que a banda está acabando. Foda-se. A gente começou
um lance e ainda não terminou."
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|