São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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DISCO/LANÇAMENTO
Líder da banda Planet Hemp lança seu primeiro disco solo, utilizando apenas samples de MPB
Nós temos que samplear Tom Jobim, diz D2

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Marcelo D2, 30, líder da banda de rap Planet Hemp, faz a propaganda de seu primeiro disco solo, "Eu Tiro É Onda", com dois argumentos. Diz que é "o primeiro disco brasileiro de rap que só usa samples de música brasileira" e se autoproclama: "Eu sou o melhor".
Afirma que seu disco é 50% rap, 50% samba. "Os dois têm linguagens parecidas. Minhas letras parecem as de Bezerra da Silva, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila."
Para construir, num estúdio improvisado em sua própria casa, as 13 faixas do CD, esse não-músico ("É meu terceiro disco e ainda não sei uma nota musical, é tudo instintivo -me orgulho disso") serviu-se de colagens de Sérgio Mendes, Baden Powell, Vinicius de Moraes. E de participações do pianista João Donato, do grupo vocal As Gatas e de Dom Um Romão, ex-baterista de Tom Jobim.
"O Brasil é o único país que tem seu próprio jazz, a bossa nova. Todo mundo sampleia James Brown. Quem vai samplear Tom Jobim? Tem que ser a gente", justifica.
"É mais fácil samplear gringo, eles estão acostumados. Aqui, nem sabem o que é sample. Íamos usar um diálogo do Tom com a Elis Regina, eles dizendo "Vamos prestar atenção nesta bosta', mas a família dele não deixou, achou que era falta de respeito."
Outra citação recorrente no álbum é Tim Maia. "Sou fã da atitude dele. O mundo pop hoje é nojento. Vocalista de banda parece empresário, só pensa em roupa, em rebolar a bunda na TV para vender disco. A música se perdeu nesse papo de vender 1 milhão de discos."
D2 não poupa seu colega de gravadora (Sony) Gabriel o Pensador, de quem parodia o tal rap de "molhar o biscoito": "Sete, oito, tá na hora de... falar sério", rima, em "Sessão". "Todo mundo sabe que não gosto do trabalho do Gabriel. Ele faz parte desse esquema, apresenta programa da Xuxa e acha que é inteligente", provoca.
Mas e a história do "Sou o melhor", em que D2 até se parece com o "Pensador"? "Digo isso porque sou o melhor", responde. E emenda: "Eu estou é tirando onda, não estou me elogiando. É pura tiração de onda, tipo "Eu jogo bola melhor', "Eu como mais minas'. Vou falar que o Gabriel é o melhor? Não, eu é que sou".
Afirma que não sofreu qualquer pressão da gravadora por criticar o colega. "É claro que não estou na Sony porque acho ela bonitinha. É negócio. Mas me deixaram livre. Sei lá, acho que a gravadora precisa de um rebelde, entre aspas, até para ser bacana."
Marcelo D2 é um rebelde entre aspas? "Não sou rebelde nem um pouco. Não tenho nem a preocupação de ser um artista. Esse é meu trabalho. Vendi 250 mil cópias com o Planet, mas não porque tinha a pretensão de vender. Fomos fazer nosso trabalho. Este novo, espero, vai vender 2 milhões."
Ainda que venda, D2 diz que a continuidade do Planet Hemp não corre risco. "Claro que a prisão (em 97, por suposta apologia ao uso de maconha) abalou geral. Brigamos pra caramba na cadeia. A Sony queria um CD do Planet, não quisemos fazer. Seria marketing da prisão. Sabemos que todo mundo vai achar que a banda está acabando. Foda-se. A gente começou um lance e ainda não terminou."



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