São Paulo, Quarta-feira, 03 de Novembro de 1999
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Incêndio mata o produtor Suba

da Reportagem Local


O produtor musical iugoslavo radicado em São Paulo Mitar Subotic, o Suba, 38, morreu ontem, por volta das 6h30, por asfixia, em decorrência de um incêndio no apartamento em que morava sozinho, na Vila Madalena (zona sudoeste da cidade).
Suba, que residia no país desde 1990, foi um dos principais responsáveis pela introdução de elementos eletrônicos e tecnológicos na música pop brasileira da segunda metade desta década.
Ele produziu discos com características eletrônicas de Marina Lima, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Mestre Ambrósio e Edson Cordeiro, entre outros.
Atualmente, vinha trabalhando na redefinição da carreira da cantora baiana Daniela Mercury -chegou na semana passada de Salvador, onde produzia seu novo CD- e em um álbum de Bebel Gilberto a ser lançado na Europa pelo selo belga Crammed.
O mesmo selo editou, no começo do ano, o primeiro disco solo de Suba, "São Paulo Confessions", até hoje inédito no Brasil.
Amanhã, o produtor viajaria para a Bélgica para promover seu CD e produzir duas faixas que faltavam para completar o álbum de Bebel. Ele levaria o material já pronto para a Crammed, segundo o também produtor musical Juan Trocoli, 37, que esteve com o artista até as 4h de ontem.
De acordo com Trocoli, Suba se preparava para produzir o novo CD do Skank. Se concretizados, os discos de Daniela e do Skank consolidariam sua entrada no mainstream fonográfico.
"Ele trouxe à música brasileira uma visão um pouco mais universal, sem tirar sua essência. A MPB não perde com sua morte, o que ela ganhou com ele já está aí. Só volta para trás quem quiser voltar", disse a cantora Marina Lima, que trabalhou com Suba em "Pierrot do Brasil" (98).
O corpo de Suba seria velado a partir das 21h de ontem no Centro Cultural Tatu, na rua Ana Helena, 27, Jardim Paulistano (zona sudoeste). Deve ser cremado hoje na Vila Alpina (zona sudeste).
Segundo o engenheiro Carlos Henrique Pellegrino, síndico do prédio onde Suba morava, por volta das 5h30 o zelador José Sebastião da Silva percebeu cheiro de fumaça. Após localizar o incêndio no apartamento de Suba, Silva interfonou para o produtor, que teria dito que não conseguia abrir a porta.
O zelador arrombou a porta e encontrou Suba, ainda de pé, cambaleando, no quarto em que ele mantinha um estúdio. "O zelador entrou no apartamento e deu a mão para o Suba, mas ele (Suba) voltou para pegar alguma coisa no quarto e se perdeu na fumaça", disse o síndico Pellegrino.
Amigos de Suba acreditam que o produtor queria salvar uma mala de back-up (espécie de microcomputador) em que estavam arquivadas as faixas do CD de Bebel, filha de João Gilberto. A cantora, que mora em Londres, não foi encontrada ontem pela Folha.
Segundo a polícia, após os bombeiros conterem o fogo, Suba foi levado, ainda vivo, para o Hospital das Clínicas. No boletim de ocorrência registrado no 14º DP (Pinheiros, zona sudoeste), consta que a morte ocorreu às 6h32.
A polícia ainda não sabe o que provocou o incêndio no apartamento. Há poucos meses, morreu o pai de Suba, que morava com a mulher em Novi Sad, Iugoslávia, cidade bombardeada pela ONU neste ano. Suba chegou a visitá-los recentemente.
(DANIEL CASTRO e PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

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