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4ª BIENAL DO MERCOSUL
Mostra derrapa ao atrelar identidade a países distintos
TIAGO MESQUITA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Por si só, a quarta edição da
Bienal do Mercosul é um fato
importante. Permite um contato
mais franco com a produção dos
nossos vizinhos.
A arte brasileira recente é posta
ao lado da dos outros artistas latino-americanos (nas mostras nacionais), de medalhões do continente (nas exposições "Icônicas"), além de incorporar outros
nomes de países de fora da América Latina (como alguns artistas
da exposição "Transversal").
A curadoria busca estabelecer
um novo acordo diplomático na
visualidade sul-americana. A conversa não seria mais pautada pelas questões levantadas pelo eixo
do norte. As referências ao núcleo
central da arte permaneceriam.
Mas, ao procurarmos relações
entre trabalhos recentes argentinos, uruguaios, mexicanos, paraguaios e brasileiros, poderíamos
levantar outra ordem de discussão. Abordaríamos questões que
produções dos países centrais não
dão conta, fortalecendo uma conversa em outro eixo, sem ficar a
reboque das vogas dos países centrais nem sob a desconfortável
posição do exótico, atribuída pelo
multiculturalismo.
Essa possibilidade, anunciada
pela curadoria, não aparece como
defesa de um regionalismo. Pelo
contrário, é uma visão otimista e
internacionalista.
Talvez venha da promessa de
uma produção mais universal, como a das abstrações geométricas
no Brasil e na América Latina.
Que não se curvem a cores locais e
respondam à produção internacional de igual para igual.
Nesta exposição, esse caráter
universal, surgido no meio do século 20, é representado por Lygia
Pape e Maria Freire.
Por outro lado, a mostra traz
um importante movimento para
o Brasil. A iniciativa é descentralizada, sai das maiores cidades do
Sudeste e se mostra muito bem
em Porto Alegre. Forma público e
profissionais de arte-educação e
de montagem de exposições.
A formação de um meio moderno, com autonomia regional e
possibilidade de reflexão sobre a
arte, em todos os níveis, me parece louvável. No entanto, a bienal
derrapa no risco ao atrelar uma
origem e uma identidade comum
a países tão diferentes.
Deixamos de ser parceiros, gente que inquieta uns aos outros e
voltamos a ser "hermanos". Não
por acaso, Orozco é o astro da
mostra. Acaba parecendo um paladino que irá unificar a arte latino-americana desde o período
pré-colombiano até hoje.
Isso não parece ser posição da
curadoria, mas aparece em trabalhos e no interesse "diplomático"
da mostra. Como se coubesse a
nós a anedota cultural que o mundo desenvolvido determinou.
Contudo muitos trabalhos parecem falar dessa consciência altiva dos países em desenvolvimento no mundo internacional. Ao
modo de um grupo de Cancún
das artes, Tato Taborda, José Damasceno, Virgínia Errazuriz, o
coletivo Terceruquinto, Laércio
Redondo, entre outros, falam à
arte de igual para igual, têm alternativas para o mundo. Interessam-se por ele, não em se reconhecer como filhotes de um funil
genético.
Tiago Mesquita é crítico de arte
4ª Bienal de Artes Visuais do
Mercosul
Onde: Usina do Gasômetro, Cais do
Porto, Museu de Arte do Rio Grande do
Sul, Memorial do Rio Grande do Sul e
Santander Cultural, em Porto Alegre (RS)
Quando: de ter. a dom., das 9h às 21h;
até 7 de dezembro
Quanto: entrada franca
Site oficial: www.bienalmercosul.art.br
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