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"APENAS UM BEIJO"
Loach se cerca de clichês e bons atores
LEONARDO CRUZ
DA REDAÇÃO
O melhor momento de
"Apenas um Beijo" surge logo no início deste filme de Ken
Loach. Um a um, moradores de
Glasgow levam seus cachorros
para urinar na placa do mercadinho de Tariq, imigrante paquistanês radicado na capital escocesa.
A seqüência se completa com a
engenhosa reação de Tariq, uma
pequena vingança, que sintetiza
os ânimos acirrados e o preconceito entre "britânicos puros" e
"pakis", como são pejorativamente chamados os imigrantes
indianos, paquistaneses e bengalis radicados no Reino Unido.
Essa tensão social não se resume
a Glasgow nem é fenômeno recente. Nos anos 60, o governo britânico estimulou a imigração de
suas ex-colônias para suprir a falta de mão-de-obra no país, principalmente para a indústria pesada.
Famílias inteiras aproveitaram a
flexibilidade das leis de imigração
e estabeleceram suas comunidades pelo Reino Unido. A falência
de parte dessa indústria nos anos
70 e 80 e o fim do emprego abundante estimularam o ódio racial.
À primeira vista, o britânico
Loach seria perfeito para retratar
esse cenário, pois alguns de seus
filmes mais contundentes abordam justamente as fraturas da sociedade contemporânea -casos
de "Ladybird, Ladybird" (1994) e
"Meu Nome É Joe" (1998).
Mas Loach optou por contar
uma história de amor e terminou
com uma obra menor. A trama de
"Apenas um Beijo" parece seguir
uma formulinha. Primeira meia
hora: apresenta-se o conflito social e os protagonistas da trama.
Segunda meia hora: os protagonistas se conhecem e se apaixonam. Hora final: a intolerância social tenta impedir o romance.
Casim (Atta Yaqub) é candidato
a DJ e filho do tradicionalista Tariq, que quer ver o jovem casado
com uma prima também paquistanesa. Roisin (Eva Birthistle) é
uma irlandesa que leciona música
em uma escola católica conservadora. A paixão dos dois, quase
imediata, não é vista com bons
olhos pela família do rapaz nem
pelos patrões da moça.
O resultado é um filme previsível, com mais clichês do que se espera de Loach. Exemplo: a família
de Casim. Além do pai tradicionalista, há a mãe, figura terna e passiva. E duas irmãs: a mais jovem,
"prafrentex", que quer estudar fora de Glasgow; e a mais velha,
conservadora, que se rende ao casamento arranjado pelo pai.
Ainda assim, "Apenas um Beijo" é um filme agradável, fácil de
ver. E isso se deve em boa parte à
habilidade de Loach na direção de
atores. Atta Yaqub e Eva Birthistle
estão seguros em cena. Sem afetação, prendem o espectador.
E os protagonistas ajudam. Se,
para os demais personagens o roteiro de Paul Laverty é muito simplista, Casim e Roisin são cheios
de nuance, colocando sempre em
questão seus valores e o próprio
amor que sentem um pelo outro.
Apenas um Beijo
Ae Fond Kiss
Direção: Ken Loach
Produção: Inglaterra/Bélgica/Itália/Espanha/Alemanha, 2003
Quando: hoje, às 18h20, na Sala UOL
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