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CRÍTICA
Compilação faz panorama de pensamento claro
DA SUCURSAL DO RIO
Do mérito de "O Mundo
Não É Chato" nasce sua
involuntária falha. Ao tentar
reunir o maior número possível de artigos de Caetano
Veloso nos últimos 45 anos,
Eucanaã Ferraz privilegiou a
quantidade, a abrangência, o
que era fundamental em se
tratando de uma produção
que estava dispersa. Mas faltou um olhar seletivo, que fica a critério do leitor.
Se fosse possível escolher
um texto do livro para resumir o pensamento de Caetano, este seria "Diferentemente dos Americanos do
Norte". É a chamada "Conferência do MAM", pois foi
concebido para um seminário realizado no Museu de
Arte Moderna do Rio em
1993. Em 30 páginas, Caetano expõe alguns pontos que
perpassam toda a sua obra, a
musical e a ensaística:
* a compreensão da bossa
nova como algo revolucionário, violento, instaurador
de um caminho irreversível
de modernidade, e não como um som apaziguador;
* a idéia do Brasil como
um lugar extremamente original, inclusive nas suas adversidades, e que todo esse
caldo deve ser usado na receita de uma alternativa diferente para o próprio país e
para o mundo -idéia que é
o cerne do tropicalismo,
mais fartamente explicado
em "Verdade Tropical";
* a dualidade entre o alegre
e o sombrio na qual transita
a sua obra, desde a música-manifesto "Tropicália" até
canções mais recentes -e
também "de manifesto", de
certa forma- como "O Estrangeiro" e "Fora da Ordem", sendo que a música
de Ben Jor e a literatura de
José Agrippino de Paula poderiam ser os dois extremos
dessa dualidade.
Esses temas e pessoas estão comentados em outros
artigos, alguns deles de forma mais detalhada que em
outros. O que resulta do panorama que é o livro é que,
queiram ou não os desafetos, há um pensamento claro
nos textos de Caetano, ainda
que formado por intervenções pontuais e fragmentadas. E esse pensamento vale
ser lido, ouvido.
(LFV)
O Mundo Não É Chato
Autor: Caetano Veloso
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 45 (368 págs.)
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