São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007

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TRECHOS

Na Somália, como em muitos outros países africanos e do Oriente próximo, as meninas são purificadas mediante a ablação da genitália. Não há outro modo de descrever esse procedimento, que costuma ocorrer por volta dos cinco anos de idade. Uma vez escavados, raspados ou, nos lugares mais benevolentes, simplesmente cortados ou extraídos o clitóris e os pequenos lábios da garota, geralmente toda região é costurada de modo a formar uma grossa faixa de tecido, um cinto de castidade feito da própria carne da criança. Um pequeno orifício no lugar adequado permite um fino fluxo de urina. Só com muita força é possível alargar o tecido cicatrizado para o coito [...]

No íntimo, eu rejeitava a doutrina e a transgredia secretamente. Como tantas outras garotas da minha classe, continuava lendo romances sensuais e suspenses ordinários, mesmo sabendo que isso era opor resistência ao islã. Ler romances que me excitavam era ceder a uma coisa que nenhuma muçulmana podia sentir: o desejo sexual fora do casamento. Uma maometana não podia ser impetuosa ou livre nem experimentar as emoções ao ler aqueles livros. Uma maometana não tomava decisões próprias nem procurava controlar o que quer que fosse. Era treinada para a docilidade. Ser maometana era desaparecer até que não restasse quase nada de você dentro de você.

Extraído de "Infiel", de Ayaan Hirsi Ali


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