São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007

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Crítica/erudito/"La Fanciulla del West"

EMI relança ponto alto do tenor João Gibin

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É tão raro um cantor lírico brasileiro conseguir sucesso internacional que a gente não pode esquecer os que "chegaram lá". Depois de anos fora de catálogo, a EMI finalmente relançou a célebre gravação da ópera "La Fanciulla del West", de Puccini, com o tenor João Gibin (1929-1997).
Nascido no Brás, Gibin estudava como barítono quando, à sua revelia, seu irmão e um colega de escola, Walter Lourenção (maestro que hoje apresenta programas de ópera na Cultura FM), resolveram inscrevê-lo no concurso sul-americano promovido pela Metro Goldwyn-Mayer, em 1951, para promover o filme "O Grande Caruso", com Mario Lanza.
Gibin venceu a prova final, no Cine Metro, no Rio de Janeiro, e, em conseqüência, foi parar na escola do Scala, de Milão, na Itália, onde mudou para o registro de tenor.
Dotado de um timbre escuro, com brilho nos agudos e profundidade nos graves, e capacidade de entrega apaixonada para papéis como Radamés, Chénier, Calaf e Pery, Gibin, além do Scala, atuou em palcos como a Staatsoper, de Viena; o Covent Garden, de Londres; o Metropolitan, de Nova York; e a Ópera de Paris.
Ponto alto de sua carreira discográfica, a "Fanciulla" foi gravada em 1959, com coro e orquestra do Scala, sob regência de Lovro von Matacic, e tendo, no elenco, uma das maiores intérpretes wagnerianas de todos os tempos, a soprano sueca Birgit Nilsson (1918-2005).
Uma espécie de antecedente operístico do gênero "western spaghetti" que seria tão comum no cinema italiano na década de 1960, "La Fanciulla del West" ("A Garota do Velho Oeste") foi a sétima ópera de Giacomo Puccini, estreando no Metropolitan em 1910, com trama que gira em torno do triângulo amoroso entre Minnie, a dona do "saloon"; Jack Rance, o xerife; e Dick Johnson, o bandido que vai se redimir pelo amor.
De orquestração sofisticada e uma linguagem harmônica que trai a influência de Debussy, a partitura, menos popular do que as outras óperas maduras de Puccini, brilha no CD graças à leitura enérgica de Matacic, e às qualidades vocais dos protagonistas.
Com agudos poderosos, Nilsson empresta à obra seu usual vigor e perfeição técnica, enquanto Gibin, no papel do bandoleiro, não faz menos que encantar quando entoa o trecho mais conhecido da obra -a ária de tenor "Ch'ella Mi Creda Libero e Lontano", adotada pelas tropas italianas durante a Primeira Guerra Mundial.


LA FANCIULLA DEL WEST
Artista: João Gibin (tenor)
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 40, em média (importado, em www.cduniverse.com)
Avaliação: ótimo



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