São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

OPINIÃO

Hanna Schygulla, como Dietrich, desfaz clichê da falta de sensualidade alemã

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Pode ser apenas mais um estereótipo, mas o fato é que adjetivos como graça e sensualidade não costumam ser associados aos alemães.
Só que o cinema não é apenas uma arma de propaganda, mas também de destruição de clichês. E ninguém fez tanto para minar essa imagem quanto duas atrizes: Marlene Dietrich (1901-1992) e Hanna Schygulla.
Há muito em comum entre as duas. A começar pelo fato de ambas terem ficado marcadas pela longa parceria com um grande cineasta: a primeira com Josef von Sternberg, na fase clássica do cinema germânico; a segunda com Rainer Werner Fassbinder, na explosão do cinema novo do país.
Além disso, Dietrich celebrizou-se por cantar "Lili Marlene" aos aliados na Segunda Guerra; Schygulla fez uma atriz que se tornou famosa por interpretar a mesma canção para nazistas em "Lili Marlene" (1981).
Acima de tudo, as duas transmitem, por trás de uma certa aparência de frieza, uma noção de ameaça sexual iminente. Como um vulcão prestes a entrar em erupção sobre uma montanha gelada.
Foi Fassbinder quem forjou essa imagem de Schygulla. Foi ele que a encontrou estudando teatro em Munique, que a convidou para sua trupe e depois para seu primeiro longa. Depois vieram inacreditáveis 22 filmes.

MULHERES FORTES
"O Casamento de Maria Braun" (1979) e "Lili Marlene", duas revisitas de Fassbinder ao melodrama e ao nazismo, deram a Schygulla seus melhores papéis: mulheres fortes confrontadas por dilemas morais pelas circunstâncias históricas.
Depois da morte precoce de Fassbinder em 1982, Schygulla diminuiu o ritmo, dedicou-se ao canto e à direção, mas continuou a exibir talento e versatilidade em filmes falados em francês, italiano, inglês e espanhol e mostrou estar em grande forma em "Do Outro Lado" (2007), de Fatih Akin.
Aos 66, ela já não é mais "a nova Marlene Dietrich", como foi rapidamente etiquetada no início de carreira. Mas é a única atriz alemã que não empalidece na comparação com o mito.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Começa amanhã venda de ingressos para Lou Reed
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.