São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

teatro

Galpão dá guinada introspectiva com "Tio Vânia", de Tchekhov

Aos 29 anos, companhia mineira marcada por encenações festivas busca teatro mais intimista

Primeiro contato com autor russo resultou no filme "Moscou"; contos do dramaturgo inspiram futura peça

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

A crise dos 30 do Grupo Galpão se anuncia aos 29, na forma de um desejo de transformação. "Tio Vânia (Aos que Vierem Depois de Nós)", de Anton Tchékhov (1860-1904), espetáculo cuja estreia paulista acontece hoje, marca o início de uma nova etapa da companhia mineira. "Com Tchékhov, damos uma guinada em nossa trajetória, em busca de uma arte de menos festiva, de interatividade absoluta com a plateia, mais interior e íntima", diz Antonio Edson, ator que interpreta Vânia.
Não é coincidência o tema central do espetáculo espelhar um momento de reflexão do grupo. O protagonista da obra faz uma imersão dentro de si. Toma consciência da passagem do tempo, da inevitável perda das ilusões e do desejo de reinvenção.
Ao se apaixonar pela mulher do ex-cunhado -Helena-, o quarentão Vânia percebe que sacrificou juventude e ambições trabalhando. Os integrantes do Galpão, formado exclusivamente por atores, convidaram a diretora Yara de Novaes para montar o clássico russo. "Nossa relação com o autor não foi arqueológica, de reverência total ao original. Queríamos um Tchékhov mais próximo da gente, fazer com que a palavra dita fosse entendida diretamente", diz Yara sobre a adaptação.
A atuação realista se contrapõe a uma encenação de cunho simbólico. A fazenda onde se passa a história é sugerida por caixas que formam paredes e servem como metáfora para a fragilidade de seus moradores.
Isso porque esses módulos apresentam manchas que sublinham os efeitos do tempo e se movem, criando uma atmosfera claustrofóbica, ilustrativa do estado interno dos personagens.
Segundo Edson, o mergulho do Galpão em um teatro introspectivo é um caminho inevitável para uma companhia balzaquiana, consequência da maturidade adquirida ao longo do tempo.
Começou em 2007, quando o cineasta Eduardo Coutinho propôs ao grupo a imersão tchekhoviana que resultou no documentário "Moscou". "Eclipse", espetáculo que a companhia estreia em dezembro em Belo Horizonte, com direção do russo Jurij Alschitz, dá continuidade ao processo. A obra é baseada em contos de Tchecov e apresenta estruturada fragmentária, nova para um grupo habituado a montar fábulas. "A aproximação desse novo universo é natural. Afinal, beirando os 30 anos, não podemos permanecer adolescentes", opina Edson.

TIO VÂNIA
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 20/11
ONDE Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141; tel. 0/xx/11 5080-3000)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


Texto Anterior: Diário da Caverna: Saudade do Piteco
Próximo Texto: Rubricas
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.