São Paulo, segunda, 3 de novembro de 1997.




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EXPOSIÇÃO
Painéis exibidos em Ribeirão Preto trazem fotos, cartas e partituras do escritor
Mostra retrata a vida de Mário de Andrade

ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha

O Espaço de Arte da Secretaria da Cultura e o Museu da Imagem e do Som de Ribeirão Preto inauguram no dia 7 de novembro a exposição "Eu Sou Trezentos, Sou Trezentos-e-Cincoenta", com 70 painéis que documentam a vida do escritor Mário de Andrade.
A mostra foi organizada em 1992, pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), para homenagear o centenário de nascimento do escritor.
As pranchas de 70cm x 1,25m reproduzem fotos, capas, postais, cartas e partituras musicais.
No ano passado, 40 delas foram emprestadas para a Universidade de Lodz, na Polônia, para representar o país na inauguração da cátedra de estudos brasileiros.
Como deixou o Brasil sem os documentos necessários, ao voltar, perdeu sua nacionalidade, ficando retida na alfândega do aeroporto de Cumbica por quase oito meses.
A Folha publicou duas reportagens sobre o assunto e a carga foi liberada em tempo hábil, evitando seu encaminhamento para leilão.
Os painéis refletem a vida de Mário de Andrade, um homem polivalente. Pesquisou a música e o folclore brasileiros, se interessou por cinema e fotografia, foi poeta, prosador e compositor.
Semana, música e folclore
Depois de participar da Semana de Arte Moderna de 1922, que sacudiu a vida intelectual do país, Mário de Andrade passou a se dedicar mais à pesquisa musical.
Na documentação da mostra, um dos destaques é a publicação do "Ensaio sobre a Música Brasileira", de 1928, em que transcreveu textos e analisou músicas recolhidas pelo país inteiro.
A obra saiu logo após "Macunaíma" e o incentivou a outras publicações: "Compêndio da História da Música", com três edições sucessivas, e "As Modinhas Imperiais", de 1930.
Na mostra também está presente a reprodução da partitura de "Viola Quebrada", composta pelo escritor na década de 20.
Ele justificou a composição em uma carta ao poeta Manuel Bandeira, em 1926: "Tenho muito costume de sobre um modelo rítmico qualquer inventar sons diferentes pra me dar uma ocupação sonora quando me visto".
Mário de Andrade foi diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo de 1935 a 1937. Executou e criou inúmeros projetos, como o da restauração de documentos antigos; incentivou o museu da palavra, o Congresso da Língua Nacional Cantada e o coro madrigalista.
Também promoveu concursos sobre assuntos variados, organizou os parques infantis e a discoteca pública.
Com a ditadura, em 1937 o escritor foi duramente golpeado, exilando-se no Rio de Janeiro, onde foi admitido como professor de estética da Universidade do Distrito Federal.
Ao voltar a São Paulo, em 1941, foi dar aulas no Conservatório Musical. Colaborador da Folha, em 1943, escreveu o ensaio "Arte Inglesa", "Mundo Musical" e "O Banquete".
Em janeiro de 1945 participou do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Morreu em 25 de fevereiro do mesmo ano, na rua Lopes Chaves, no bairro da Barra Funda. A "casa minha", como dizia, desde 1921 se tornara o palco de toda a sua produção intelectual.

Exposição: Eu Sou Trezentos, Sou Trezentos-e-Cincoenta Onde: Espaço de Arte da Secretaria da Cultura (Alto do São Bento, s/nš, tel. 016/636-1206, Jardim Mosteiro) Quando: 7 de novembro, às 20h; seg a sáb, das 8h às 21h; até 29 de novembro Quanto: entrada franca


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