São Paulo, Sexta-feira, 03 de Dezembro de 1999


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CINEMA
Evento será realizado amanhã
Wim Wenders ganha o "oscar europeu"

AMIR LABAKI
em Amsterdã


"Buena Vista Social Club", do alemão Wim Wenders, foi eleito o melhor documentário europeu do ano. O delicioso registro da reunião de um grupo de veteranos músicos cubanos, organizada por Ry Cooder, recebe amanhã o prêmio na cerimônia da Academia Européia de Cinema.
O documentário de Wim Wenders bateu seis outros concorrentes. "Mobutu, o Rei do Zaire", um longo e detalhado retrato do ex-ditador, valeu uma menção honrosa ao cineasta Thierry Michel, da Bélgica.
Dois outros indicados tratavam da perseguição nazista aos judeus: o alemão "Herr Zwilling und Frau Zuckermann", de Volker Koepp, e "La Chacanne de Auschwitz", de Michel Dacron. Wenders bateu também seu colega de geração, Werner Herzog, que competia com "Meu Melhor Inimigo -Klaus Kinski".
A forte concorrência incluía ainda "La Commission du Verité", de Andre Van Inn, e "Pripyat", de Nikolaus Geyrhalter.
Van Inn acompanhou pacientemente os trabalhos da comissão, comandada pelo reverendo Desmond Tutu, que levantou as violações de direitos humanos durante a vigência do apartheid na África do Sul. "Pripyat", por sua vez, faz uma tocante visita à cidade mais próxima da usina de Chernobyl, sede do pior acidente nuclear da história.
A Academia Européia anunciou ainda os nomes dos três homenageados da cerimônia deste ano. O compositor italiano Ennio Morricone recebe o prêmio por sua carreira. Já o cineasta polonês Roman Polanski e o ator e realizador espanhol Antonio Banderas serão celebrados por suas contribuições como europeus para o cinema mundial.

Gregory Peck
"A Conversation with Gregory Peck" (Uma Conversa com Gregory Peck), presente no mercado de filmes paralelo ao Festival de Amsterdã, é mais uma homenagem a um dos últimos sobreviventes da Hollywood clássica. Pouco tem de original, baseado numa turnê de entrevistas públicas protagonizada pelo ator nos últimos anos, mas reafirma o mistério do carisma.
Gregory Peck jamais foi confundido com um ator de primeiro time. Tinha um quê de penetra no restrito clube das grandes estrelas. Era bonito, mas não especial, elegante, mas não inteligente, limitado, mas não canastrão.
Apesar das evidentes deficiências, Peck sempre foi uma companhia agradabilíssima quando projetado na tela grande. Era o protótipo do bom sujeito, atrapalhado num mau momento e companheiro das causas justas.
Divertiu em "thrillers" como "Quando Fala o Coração" e "Arabesco", enterneceu ao lado da estreante Audrey Hepburn de "A Princesa e o Plebeu", sobreviveu a "Duelo ao Sol" e ao "Moby Dick" de John Huston. Coragem cívica jamais lhe faltou, denunciando o anti-semitismo em "A Luz É Para Todos" e o racismo em "O Sol É Para Todos", seu filme predileto, até mesmo por ter valido seu único Oscar.
Os 83 anos adicionaram a Peck o charme da sabedoria. Barbara Kopple rende-se a ele, depois das demandas mais ásperas de seus retratos de Mike Tyson e Woody Allen, entre outros.
Anedotas hollywoodianas sucedem-se em diversas noitadas do mesmo show. Algumas entrevistas preenchem certas lacunas. Filmagens em família revelam o amor pela esposa francesa, a amizade com o presidente da França, Jacques Chirac, o drama maior do suicídio de um dos cinco filhos.
Tudo parece um longo -e agradável- comercial para a autobiografia que Peck anuncia estar escrevendo. "Quero ser lembrado como um bom contador de histórias", revela o ator. Esse diploma, memórias boas ou não, já é dele.


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