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MÚSICA
Mercado Cultural abarca, além de shows, espetáculos de dança, teatro, mostras de artes visuais, filmes e palestras
Salvador se torna "Meca independente"
ISRAEL DO VALE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O duplo nó que amarra a produção artística independente tenta
mais uma vez ser desatado a partir de hoje, com a quarta edição do
Mercado Cultural, em Salvador.
É, atualmente, no país, o esforço
mais articulado para reverter a dificuldade de circulação de idéias
novas e/ou atípicas, à margem da
lógica do "atacadão" de filões musicais consagrada pela indústria
cultural.
O evento põe em questão os velhos dilemas de como fazer um
artista ser conhecido (o que envolve a discussão do acesso à mídia, especialmente a eletrônica, de
concessão pública) e de como
permitir que seu trabalho seja adquirido com facilidade (leia-se
distribuição ágil e abrangente),
sem que os interesses mercadológicos atropelem os artísticos.
Ainda que a ênfase esteja na
música, o Mercado Cultural agrega também, no varejo, espetáculos de dança, teatro, mostras de
artes visuais, ciclo de filmes,
workshops e palestras. Até domingo, cerca de 1.500 artistas revezam-se por 22 espaços soteropolitanos, em cerca de 90 shows,
além de exposições, montagens
de artes cênicas e feira de artes
com 80 estandes de instituições
privadas e governamentais.
Criadores de 15 países e de nove
Estados brasileiros mostram o lado B da produção cultural, de tom
"autoral", como qualifica Ruy Cezar Silva, diretor do Instituto Cultural Casa Via Magia, organizador
do evento. "Buscamos artistas
que tenham uma trajetória de
pesquisa de linguagem, não fenômenos passageiros."
São nomes como a septuagenária colombiana Petrona Martínez
(dona de um trabalho de forte
acento afro), o grupo cubano-libanês Hanine y Son Cubano (intérprete de canto árabe acompanhada por um combo de ritmos
latinos) ou a congolesa radicada
na França Yondo Sister. São trabalhos de inclinação étnica ou regional, mas não só. Representantes do pop nacional ilustram bem
o tom: Mundo Livre S/A, Berimbrown, Pedro Luis e a Parede,
Marcos Suzano, Lampirônicos.
Não há nomes de lotar estádios.
A investida é a de desmontar a noção de que sucesso (normalmente
associado a quantidade e/ou valor
de venda) é sinal de qualidade.
Nem por isso os números são
inexpressivos. No ano passado,
segundo a organização, 60 mil
pessoas acompanharam a cada
dia as atrações de rua pulverizadas por cinco pontos do Pelourinho. Outras 30 mil ocuparam lugares nos dez espaços fechados.
Estima-se que a Feira de Artes
de 2001 tenha movimentado R$
3,5 mi -hoje, quase US$ 1 mi. No
total, o evento deve fazer circular
neste ano (entre os gastos com infra-estrutura, mídia, comércio e
serviços) R$ 17,5 mi, contra R$
13,5 mi no ano passado.
Artistas, produtores culturais,
empresários e diretores de festivais da América Latina, Europa,
EUA, África e Oriente Médio vêm
ao Brasil para exibir seus trabalhos e projetos e conhecer uma
parcela da atual produção artística local de circulação restrita.
A aposta é que, idealmente, o
contato entre agentes culturais de
regiões e países diferentes gere
troca de informações e bons negócios. "Não é coisa de Cinderela,
um passaporte automático para a
sorte e a felicidade, mas uma forma de estabelecer contatos e,
quem sabe, abrir um campo de
atuação maior para o artista", diz
Benjamim Taubkin, co-proprietário, com Teco Cardoso, do selo
Núcleo Contemporâneo e curador da porção musical do evento,
que ocupa 70% da programação.
Pelo resultado prático mensurado em edições anteriores vê-se
que a resposta vem surtindo efeito. Artistas que estiveram na edição mais recente, como a cantora
Monica Salmaso e a Banda de Pífanos de Bendegó (grupo familiar
do sertão da Bahia que reúne pai,
filho e casal de avós) fizeram neste
ano suas primeiras turnês pelo exterior. O próprio Taubkin colhe
agora o que plantou na edição anterior. Um dos atrativos de sua
gravadora é o novo disco do argentino Carlos Aguirre, cartão de
visitas de uma coleção de artistas
latinos que pretende lançar no
Brasil.
A ambição maior, porém, é a de
pavimentar o caminho inverso.
Levantamento da Associação
Brasileira da Música Independente (ABMI) dá conta de que as gravadoras indies já lançam mais artistas nacionais que as majors.
Apenas a ABMI congrega cerca de
80 selos. Por falta de visão empresarial, de recursos mínimos para
investir ou de contatos, pouco
disso circula fora do país.
O jornalista Israel do Vale viaja a convite da organização do evento
4º MERCADO CULTURAL DA BAHIA.
Onde: 22 espaços em Salvador
(programação em www.viamagia.
com.br). Quando: de hoje a domingo,
com atividades a partir das 10h. Quanto:
grátis (eventos de rua) ou R$ 100 (toda a
programação).
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