São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coleção revive trilhas de antigas novelas da Globo

Relançamentos recuperam época em que canções eram feitas sob encomenda para acompanhar os folhetins da emissora

Pesquisador Charles Gavin e especialistas Marcos Valle e Guto Graça Mello sonham com a volta desse modelo para a teledramaturgia

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Cinco anos depois de devolver às ruas o som de produções históricas como "Saramandaia" e "Dancin" Days", a Som Livre lança mais 26 CDs que recuperam trilhas da TV Globo. Para os mais novos, é uma chance de saber que diabos eram "O Bofe" e "O Rebu".
Ou de descobrir que nem sempre músicas de vários compositores foram o pano de fundo das novelas. "Infelizmente não existem mais trilhas encomendadas.
Escolher algumas dessas foi um dos critérios da seleção", diz Charles Gavin, baterista dos Titãs e emérito pesquisador dos acervos de gravadoras, já tendo relançado cerca de 400 títulos desde 1999.
É no nicho das trilhas encomendadas que entram "O Bofe" (1972/73) e "O Rebu" (74/75). A primeira, história de Bráulio Pedroso com o experimentalismo que se permitia às 22h, ganhou 12 faixas de Roberto e Erasmo Carlos.
Eles não cantam nem há obras-primas, mas o fato é único. Também de Pedroso e muito mais experimental, "O Rebu" tinha uma trilha só de Raul Seixas e Paulo Coelho. O LP chegava a ser negociado em sebos a R$ 150.
Com Nelson Motta e André Midani entre seus pais, o modelo da encomenda teve Marcos Valle como o compositor-protótipo. Depois de criar temas para três novelas, ele e o irmão Paulo Sérgio fizeram toda a trilha de "Selva de Pedra" (72) -relançada em 2001- e depois a de "Os Ossos do Barão" (73), que agora vira CD.
"Sempre gostei de passar por vários ritmos, e numa novela é preciso ter essa variedade. Eu ficava muito feliz com os resultados e gostaria de fazer de novo", afirma Valle.

Formato engessado
O modelo foi adotado com qualidade em outras novelas, como "O Bem-Amado" (73, de Toquinho e Vinicius de Moraes, já relançada) e "O Semideus" (73/74, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, agora em CD). E com qualidade irregular em "O Primeiro Amor" (72) e "Supermanoela" (74), ambas de Antônio Carlos e Jocafi, e "Cavalo de Aço" (73), de Guto Graça Mello e Nelson Motta.
"Acho um trabalho absurdamente ruim. Não tinha a menor noção de como se fazia", afirma Graça Mello, que depois se tornou um especialista no ramo, produzindo as trilhas da Globo por 18 anos.
Foi ele quem, chamado a três dias da estréia para fazer as músicas de "Pecado Capital" no lugar de uma trama que a emissora vetara, ajudou a criar em 75 o formato atual: várias músicas de várias gravadoras. "Esse formato engessou.
Acho que seria um excelente momento para convidar dois ou três compositores para fazer uma trilha", opina ele, que se orgulha de trabalhos como os infantis que estão na nova coleção: "Pirlimpimpim" (82), "Plunc Plact Zum" (83) e "A Era dos Halley" (85).
Alguns valem por marcar uma época e pela qualidade: "Locomotivas" (77), "O Astro" (77/78) e "Malu Mulher" (79/ 80). E há os bons e raros: "Norminha", que já foi vendido por R$ 250 em sebos, é um hilário disco em que Jô Soares canta como a sua personagem do programa "Faça Humor, Não Faça a Guerra" (70/72); os três volumes de "Novela das Seis" reúnem compactos, pois na década de 70 não havia LPs para esse horário.


COLEÇÃO SOM LIVRE MASTERS
Quanto:
R$ 25 cada, em média


Texto Anterior: Brasil produz quatro séries de animação com o Canadá
Próximo Texto: Colecionador que ajudou Charles Gavin tem 20 mil vinis e mais de 6.000 CDs
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.