São Paulo, domingo, 03 de dezembro de 2006

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Crítica

"O Jogador" legitima humor de Altman

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Robert Altman, que morreu recentemente, tinha no humor uma virtude especial. Ele era capaz de comédias memoráveis, como "M.A.S.H.", que destruía o militarismo com gags impiedosas, e dava a impressão de que só elas bastariam para pôr fim a uma guerra, assim como "Cenas de um Casamento" punha em questão a família e seus procedimentos.
Quando o humor lhe faltava e os filmes se tornavam graves, tudo tendia a descarrilhar. Exercícios como "O Exército Inútil", para ficar no exemplo mais depressivo, afastavam Altman do público -embora o cineasta não parecesse fazer questão de se aproximar dele.
Nenhum filme legitimou Altman mais em Hollywood do que "O Jogador" (Telecine Cult, 0h20). Lá ele acertava as contas, justamente, com os produtores de cinema, o que não deixa de ser um paradoxo. No centro da trama há um produtor que acumula fracassos ao mesmo tempo em que começa a receber cartas anônimas.
Mas a trama não é o fundamento do filme, é apenas seu suporte. O que Altman exerce ali é o humor em último grau. Humor negro, não raro. Existe a implícita queixa em relação à geração de produtores que substituiu os velhos "tycoons", que todos reconheciam ser tiranos, mas que haviam crescido junto com o cinema. Os novos "tycoons", como o Tim Robbins do filme, eram só negociantes. Por isso foi tão fácil Hollywood assinar embaixo deste notável filme de humor.


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