|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
"O Jogador" legitima humor de Altman
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Robert Altman, que morreu
recentemente, tinha no humor
uma virtude especial. Ele era
capaz de comédias memoráveis, como "M.A.S.H.", que destruía o militarismo com gags
impiedosas, e dava a impressão
de que só elas bastariam para
pôr fim a uma guerra, assim como "Cenas de um Casamento"
punha em questão a família e
seus procedimentos.
Quando o humor lhe faltava e
os filmes se tornavam graves,
tudo tendia a descarrilhar.
Exercícios como "O Exército
Inútil", para ficar no exemplo
mais depressivo, afastavam
Altman do público -embora o
cineasta não parecesse fazer
questão de se aproximar dele.
Nenhum filme legitimou Altman mais em Hollywood do
que "O Jogador" (Telecine
Cult, 0h20). Lá ele acertava as
contas, justamente, com os
produtores de cinema, o que
não deixa de ser um paradoxo.
No centro da trama há um produtor que acumula fracassos ao
mesmo tempo em que começa
a receber cartas anônimas.
Mas a trama não é o fundamento do filme, é apenas seu
suporte. O que Altman exerce
ali é o humor em último grau.
Humor negro, não raro. Existe
a implícita queixa em relação à
geração de produtores que
substituiu os velhos "tycoons",
que todos reconheciam ser tiranos, mas que haviam crescido junto com o cinema. Os novos "tycoons", como o Tim
Robbins do filme, eram só negociantes. Por isso foi tão fácil
Hollywood assinar embaixo
deste notável filme de humor.
Texto Anterior: Bia Abramo: Ritmo policial faz novela masculina Próximo Texto: Novelas da semana Índice
|