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Crítica
Cantora se sobressai como intérprete, mas ainda é imatura como compositora
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Ana Cañas surpreende
pela ousadia em "Amor
e Caos", o seu disco de
estréia: das dez faixas, sete têm
a sua assinatura. Mas o problema do álbum também está aí:
suas composições estão aquém
de sua voz.
Os melhores resultados es-
tão nos blues e similares:
"Mandinga Não", "Cadê Você?", "?" e, com qualidade menor, "Devolve, Moço". A voz
da cantora não é muito rascante nem por demais potente,
mas tem a força necessária
para imprimir alguma tensão a
essas músicas.
Apesar do cabotinismo, "A
Ana" é uma balada roqueira
bem agradável. Mas há outras
baladas pop que são fracas tanto em melodia quanto em letra,
como "Vacina na Veia" -a epígrafe de Shakespeare não engana- e "Para Todas as Coisas",
referência pobre e descartável a
Marisa Monte.
Se como compositora a jovem ainda está um tanto imatura, como intérprete ela se
mostra bem mais à vontade.
"Coração Vagabundo" (Caetano Veloso) é cantada com a delicadeza certa, sem que as guitarras -também "abluesadas"- e os efeitos perturbem a
paz da música.
"Super Mulher" (Jorge
Mautner) é, possivelmente, o
melhor momento do álbum.
Ana Cañas mostra a diversidade de sua voz, une humor e ternura, forró e blues. A participação de Naná Vasconcelos é, ao
contrário do que acontece muitas vezes, discreta e precisa.
"Rainy Day Women" (Bob
Dylan) só complementa o disco
com uma emulação do estilo do
bardo country.
Falta um pouco mais de cérebro para fazer jus à garganta de
Ana Cañas. Mas há um enorme
potencial.
Só um detalhe: pôr os nomes
dos compositores lá no final
do encarte é feio. Ainda mais
para quem estréia, respeito
é fundamental.
AMOR E CAOS
Gravadora: Sony BMG
Quanto: R$ 26,90 (em média)
Avaliação: bom
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