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MÚSICA
crítica
Brasileira toca Scarlatti com piano "livre"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O
italiano Domenico
Scarlatti nasceu em
Nápoles em 1685,
mesmo ano em que nasciam
na Alemanha Bach e Haendel. Morreu aos 72 anos, em
Madri, cidade na época distante das igrejas alemãs e das
cortes da Itália e da França,
onde o barroco "acontecia"
como evento musical.
Deixou nada mais que 555
pequenas peças por ele qualificadas de sonatas -elas foram gravadas em 34 CDs pelo cravista americano Scott
Ross (1951-1989)- por embojarem idéias e variações
relativamente simples, capazes de formar a percepção refinada da música e adestrar
ao cravo um punhado de nobres espanhóis.
Daria então para perguntar: o que a pianista brasileira Sonia Rubinsky tem a ver
com um repertório já tão conhecido e tão freqüentemente gravado? Pois tem uma
fantástica e leal visão daquilo
que Scarlatti representou.
Creio que ela será lembrada,
a partir de agora, como uma
das grandes intérpretes do
autor napolitano.
Ela trabalha com o piano, o
que é uma "liberdade poética" amplamente admissível
na reprodução de um período em que teclado era sinônimo de cravo. O piano é um
instrumento que não permite apenas um volume sonoro
maior e dinâmicas mais amplas. Ele pode, ao mesmo
tempo, "estragar" uma peça
barroca, dando-lhe um fraseado mais próximo do século 19 ou um andamento narrativo que os contemporâneos de Scarlatti simplesmente desconheciam.
O CD de Sonia Rubinsky
(Algol) traz 16 sonatas de um
Scarlatti com imensa autenticidade. Ele "respira" a primeira metade do século 18
em suas inflexões, na forma
explícita de expor os temas
melódicos, nos arpejos.
É como se ela ainda trouxesse implícitas em sua leitura as peças de outros compositores que freqüentou.
Ela
gravou em oito volumes a integral para piano de Villa-Lobos (por vezes um suplício
polifônico para o intérprete),
mas também Mozart, Debussy e os contemporâneos
completamente diferenciados, como Olivier Messiaen e
John Adams.
Isso dá um diferencial na
percepção das modulações,
no contingenciamento do
potencialmente emocional.
Scarlatti é melodia numa
época em que o individualismo não era ainda um valor
estético.
Rubinsky sobrepõe a técnica à emoção individual, por
exemplo, na "Sonata em Fá
Menor", K. 481, a faixa 13 do
CD, ou a "Sonata em Ré
Maior", K. 492, a faixa 15.
A pianista nasceu em
Campinas. Começou a estudar música no Brasil, mudou-se para Israel e se formou nos Estados Unidos, onde viveu por longos anos. Está hoje radicada na França.
Esse convívio com conservatórios, professores e uma crítica absolutamente plurais
deu com certeza a ela uma
percepção singular daquele
período tardio da música
barroca. É justamente o que
as sonatas de Scarlatti se oferecem como grande demonstração.
(JBN)
SONATAS DE SCARLATTI
Artista: Sonia Rubinsky
Lançamento: Algol
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo
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