São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Hector Babenco lança caixa com sua filmografia

Coleção reúne filmes do diretor do período entre 1975 até 2007, como "Coração Iluminado" e "Carandiru"

Argentino naturalizado brasileiro disse que decidiu lançar a caixa quando não encontrou seus filmes no exterior

ANA PAULA SOUSA

DE SÃO PAULO

Hector Babenco pouco revê seus filmes. Se revê, quase não se reconhece neles.
"Quando vejo, por acaso, minha memória está ligada às pessoas que trabalharam comigo, a uma filha que era pequena quando o projeto começou e de repente era uma moça. Mas não me vejo ali. Não sou o mesmo de 30 anos atrás. Não penso muito sobre os filmes que fiz."
Talvez por isso, Babenco tenha demorado para lançar sua obra em DVD.
Mas há um par de anos, ao entrar numa enorme videolocadora em Edimburgo, na Escócia, deu de cara com os filmes de colegas brasileiros e, bom, não havia nada seu. De volta ao Brasil, resolveu encaixotar-se. "Caixa rima com epitáfio", provoca.
A coleção que chegou nesta semana às lojas reúne oito títulos do diretor. Pena faltar "Ironweed", com Meryl Streep e Jack Nicholson.
"Sei lá se o comprador de DVD tem alguma ideia do que sejam meus filmes. Acho que não", admite. "Tenho a impressão de que o mercado está codificado entre as coisas da moda e os clássicos.
Eu não sou nem uma coisa nem outra. Fico curioso de saber quem vai comprar." Mas foram muitos os brasileiros que viram os filmes de Babenco. São dele alguns dos campeões de bilheteria da história, como "Lúcio Flávio" e "Carandiru", e títulos de grande repercussão internacional, como "Pixote" e "O Beijo da Mulher-Aranha", indicado ao Oscar.

FRACASSO DÓI
Há também, em sua carreira, os filmes íntimos, de fraco resultado comercial, como "Coração Iluminado", que escreveu quando achou que fosse morrer, e "O Passado".
Mas os fracassos doem, admite. "É cabelo que cai, é doença de pele... É o eterno dilema do menino prodígio", diz ele, que ganhou o Festival de Brasília com o primeiro filme, "O Rei da Noite", e estourou nas bilheterias com o segundo, "Lúcio Flávio".
"É uma péssima educação o sucesso. Ele te dá uma memória e, se aquilo não se repete, você recebe como derrota", reflete. Atualmente, o que mais o incomoda não é, porém, a recepção -da crítica ou do público- a um filme. E, sim, os caminhos que é obrigado a percorrer para realizá-lo.
"Odeio ser subvencionado, mas não tenho outra saída", diz. "Cineasta, no Brasil, é um pouco como o menino esperando o troco da vovó para comprar sorvete. Mas, em vez de comprar sorvete, fazemos filmes."
E o que isso acarreta, afinal? "Acarreta uma humilhação. É como se você nunca crescesse." Babenco fez o primeiro longa com dinheiro emprestado pela galerista Raquel Arnaud, então sua mulher, e todos os outros até os anos 1990, quando parou de filmar para se tratar de um câncer no sistema linfático, com dinheiro do mercado.
"Quando acordei, lembro do [Luiz Carlos] Barreto eufórico: "Vamos ter ações dos nossos filmes vendidas na bolsa!". Olha no que deu. Numa produção pulverizada que não chega aos cinemas."

COLEÇÃO HECTOR BABENCO

DISTRIBUIÇÃO Europa Filmes
QUANTO R$ 229
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


Texto Anterior: Após empréstimo de terreno, Oficina espera definição do MinC
Próximo Texto: Carlos Heitor Cony
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.