São Paulo, quarta-feira, 04 de janeiro de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

Galeria Nacional de Arte de Washington reúne 167 obras do pintor, incluindo duas telas do acervo do Masp

Cézanne ganha retrospectiva no centenário da morte

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Exatamente cem anos após sua morte, o pintor francês Paul Cézanne (1839-1906) ganha neste mês a maior retrospectiva com sua obra. A partir do dia 29 de janeiro, a Galeria Nacional de Arte de Washington apresenta 167 trabalhos do artista em "Cézanne na Provença", região de Aix-en-Provence, a cidade onde o artista nasceu, morreu e trabalhou a maior parte de sua vida.
É para lá, aliás, que a mostra segue, de junho a setembro, no Museu Granet, que será reaberto após quatro anos de reformas. Há 50 anos, o museu já havia celebrado os 50 anos da morte do artista.
Foi na Provença que Cézanne produziu a maior parte de suas obras, isolado da vida turbulenta de Paris no final do século 19, onde esteve várias vezes no início de sua carreira, graças aos recursos de sua família -ele era filho de um banqueiro que não apoiava sua intenção em ser pintor.
Mesmo assim, ele pôde desenvolver sua pintura sem precisar de outro emprego, e talvez esteja aí uma das razões da importância de sua obra: a total independência com o mercado e a possibilidade de realizar uma pesquisa individual sem compromissos. Ele "concebeu a pintura como pesquisa pura e desinteressada, semelhante à do cientista ou do filósofo", escreveu o historiador da arte Giulio Argan.
Tendo acompanhado, em visitas ao Louvre, em Paris, todos os grandes mestres da pintura francesa, como Poussin, Courbet, Delacroix e Daumier, além de ter freqüentado a casa de seu amigo Émile Zola e do grupo de impressionistas, ao qual é muitas vezes ligado, Cézanne distinguiu-se de seus pares a ponto de ser apontado como ponto de partida para a arte moderna e influência de dois dos mais importantes artistas do século 20: Picasso e Matisse, segundo o historiador britânico Herbert Read.

Autonomia da arte
Qual foi o ensinamento de Cézanne a Matisse? "Simplesmente que as cores de um quadro devem ter uma estrutura, ou, parafraseando-o, que a estrutura é dada ao quadro pela relação entre suas cores constitutivas", escreveu Read. Aí está um dos princípios da arte moderna, ou seja, são as relações dentro da tela e não com a realidade que importam, apontando para a autonomia da arte, princípio constitutivo do pensamento moderno.
A mostra em Washington e Aix, que começou a ser organizada em 2000, por iniciativa do governo francês, não privilegia a importância do artista para a arte moderna, mas tem como foco a região onde o artista mais trabalhou. Apesar de só a Galeria Nacional de Washington possuir 140 trabalhos de Cézanne, entre pinturas, desenhos e gravuras, museus de todo o mundo cedem obras para a exposição, como o Museu de Arte Moderna de Nova York, e o Museu d'Orsay, em Paris, e até mesmo o Museu de Arte de São Paulo (Masp), que empresta duas das cinco telas de sua coleção do artista, "Rochedos em l'Estaque" e "O Grande Pinheiro", atualmente em cartaz na coleção permanente do museu. A visita vale a pena, já que o próprio Gombrich adverte que para entender a complexidade do artista "vá ver os quadros no original".
O Masp possui ainda "O Negro Cipião", "Paul Aléxis Lê um Manuscrito a Zola", que denota sua amizade com o escritor francês, fundador do naturalismo, e "Madame Cézanne em Vermelho".
O conjunto das cinco obras entrou para o museu entre os anos 1949 e 1953, que marcaram a constituição de grande parte das principais obras da instituição, quando no período do pós-guerra as obras eram compradas por bons preços. Hoje, tais trabalhos valem fortunas. Em 1999, por exemplo, uma pintura sua, "Natureza Morta com Cortina, Jarro e Cesto de Frutas" foi leiloada por US$ 60,5 milhões.
Não há previsão, no site do Masp, de comemoração ao centenário da morte do pintor.
Por ter sido a cidade onde o artista viveu, Aix-en-Provence está organizando uma série de eventos relacionados a Cézanne, e até mesmo a Orquestra Sinfônica de Berlim irá tomar parte da programação. A lista completa do Ano Cézanne pode ser vista no site www.cezanne-2006.com.


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