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ARTES PLÁSTICAS
Galeria Nacional de Arte de Washington reúne 167 obras do pintor, incluindo duas telas do acervo do Masp
Cézanne ganha retrospectiva no centenário da morte
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Exatamente cem anos após sua
morte, o pintor francês Paul Cézanne (1839-1906) ganha neste
mês a maior retrospectiva com
sua obra. A partir do dia 29 de janeiro, a Galeria Nacional de Arte
de Washington apresenta 167 trabalhos do artista em "Cézanne na
Provença", região de Aix-en-Provence, a cidade onde o artista nasceu, morreu e trabalhou a maior
parte de sua vida.
É para lá, aliás, que a mostra segue, de junho a setembro, no Museu Granet, que será reaberto
após quatro anos de reformas. Há
50 anos, o museu já havia celebrado os 50 anos da morte do artista.
Foi na Provença que Cézanne
produziu a maior parte de suas
obras, isolado da vida turbulenta
de Paris no final do século 19, onde esteve várias vezes no início de
sua carreira, graças aos recursos
de sua família -ele era filho de
um banqueiro que não apoiava
sua intenção em ser pintor.
Mesmo assim, ele pôde desenvolver sua pintura sem precisar de
outro emprego, e talvez esteja aí
uma das razões da importância de
sua obra: a total independência
com o mercado e a possibilidade
de realizar uma pesquisa individual sem compromissos. Ele
"concebeu a pintura como pesquisa pura e desinteressada, semelhante à do cientista ou do filósofo", escreveu o historiador da
arte Giulio Argan.
Tendo acompanhado, em visitas ao Louvre, em Paris, todos os
grandes mestres da pintura francesa, como Poussin, Courbet, Delacroix e Daumier, além de ter freqüentado a casa de seu amigo
Émile Zola e do grupo de impressionistas, ao qual é muitas vezes
ligado, Cézanne distinguiu-se de
seus pares a ponto de ser apontado como ponto de partida para a
arte moderna e influência de dois
dos mais importantes artistas do
século 20: Picasso e Matisse, segundo o historiador britânico
Herbert Read.
Autonomia da arte
Qual foi o ensinamento de Cézanne a Matisse? "Simplesmente
que as cores de um quadro devem
ter uma estrutura, ou, parafraseando-o, que a estrutura é dada
ao quadro pela relação entre suas
cores constitutivas", escreveu
Read. Aí está um dos princípios
da arte moderna, ou seja, são as
relações dentro da tela e não com
a realidade que importam, apontando para a autonomia da arte,
princípio constitutivo do pensamento moderno.
A mostra em Washington e Aix,
que começou a ser organizada em
2000, por iniciativa do governo
francês, não privilegia a importância do artista para a arte moderna, mas tem como foco a região onde o artista mais trabalhou. Apesar de só a Galeria Nacional de Washington possuir 140
trabalhos de Cézanne, entre pinturas, desenhos e gravuras, museus de todo o mundo cedem
obras para a exposição, como o
Museu de Arte Moderna de Nova
York, e o Museu d'Orsay, em Paris, e até mesmo o Museu de Arte
de São Paulo (Masp), que empresta duas das cinco telas de sua coleção do artista, "Rochedos em l'Estaque" e "O Grande Pinheiro",
atualmente em cartaz na coleção
permanente do museu. A visita
vale a pena, já que o próprio
Gombrich adverte que para entender a complexidade do artista
"vá ver os quadros no original".
O Masp possui ainda "O Negro
Cipião", "Paul Aléxis Lê um Manuscrito a Zola", que denota sua
amizade com o escritor francês,
fundador do naturalismo, e "Madame Cézanne em Vermelho".
O conjunto das cinco obras entrou para o museu entre os anos
1949 e 1953, que marcaram a
constituição de grande parte das
principais obras da instituição,
quando no período do pós-guerra
as obras eram compradas por
bons preços. Hoje, tais trabalhos
valem fortunas. Em 1999, por
exemplo, uma pintura sua, "Natureza Morta com Cortina, Jarro e
Cesto de Frutas" foi leiloada por
US$ 60,5 milhões.
Não há previsão, no site do
Masp, de comemoração ao centenário da morte do pintor.
Por ter sido a cidade onde o artista viveu, Aix-en-Provence está
organizando uma série de eventos
relacionados a Cézanne, e até
mesmo a Orquestra Sinfônica de
Berlim irá tomar parte da programação. A lista completa do Ano
Cézanne pode ser vista no site
www.cezanne-2006.com.
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