São Paulo, terça, 4 de fevereiro de 1997.

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DANÇA
Coreógrafo brasileiro apresenta seu primeiro espetáculo como diretor do Teatro Nacional, em Weimar
Ismael Ivo estréia amanhã na Alemanha

Divulgação
O bailarino e coreógrafo Ismael Ivo, que estréia na Alemanha o espetáculo "Uma Breve História do Inferno"


ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Amanhã, no Teatro Nacional da Alemanha, em Weimar, o bailarino e coreógrafo brasileiro Ismael Ivo estréia o espetáculo ``Uma Breve História do Inferno'', com roteiro do diretor teatral Gerald Thomas e música de Villa-Lobos.
Além de Ivo, o elenco conta com mais três brasileiros -Kiko Moreira, Renato Fernandes e Rosa Costa. Na direção coreográfica do espetáculo está Mara Borba. Ana Mondini, que se mudou para a Alemanha no ano passado, estréia em Weimar como assistente de direção geral de Ivo.
Para Ivo, que saiu do Brasil em 1983, ``Uma Breve História do Inferno'' representa mais uma vitória. Com esse espetáculo, ele marca sua primeira produção como diretor de balé do Teatro Nacional da Alemanha, cargo que assumiu em agosto passado.
``Sou o primeiro bailarino negro e estrangeiro que dirige uma companhia estatal na Alemanha'', disse Ivo. ``Há muito tempo planejava criar um espetáculo com músicas de Villa-Lobos. Ao assumir a direção do Teatro Nacional em Weimar, decidi que o primeiro espetáculo dessa nova fase deveria conter um pouco de minhas origens.''
``Por coincidência, Gerald Thomas estava dirigindo uma ópera na Alemanha nessa época e nós resolvemos realizar uma parceria que, no entanto, teve problemas.''
Segundo Ivo, Thomas deveria dirigir ``Uma Breve História do Inferno''. ``Thomas está acostumado a trabalhar a expressão corporal e a movimentação de atores e de intérpretes de ópera. Tivemos problemas quando ele passou a lidar com bailarinos, que têm uma dramaturgia própria, fundamentada no corpo e não na fala.''
Frustradas as expectativas, Thomas abandonou a direção, mas deixou um roteiro, cuja direção coreográfica acabou ficando por conta de Mara Borba.
No roteiro de Thomas foi introduzida a história pessoal de Ivo. ``Thomas diz que eu sou um brasileiro que veio fazer sucesso na Alemanha, onde estou sendo canibalizado. Ou seja, estou realizando o caminho inverso da cultura européia, que foi canibalizada no Brasil, segundo os modernistas.''
A partir dessa idéia, o espetáculo mostra um escritor como personagem principal, interpretado por Ivo, que surge na abertura em forma de boneco.
Essa réplica de Ivo confunde os demais personagens, que realizam um funeral do boneco, tido como o escritor morto. ``Aos poucos, os bailarinos começam a arrancar pedacinhos desse corpo, devorando-os em seguida, sem perceber que o escritor está vivo, embaixo da mesa, escrevendo uma história que pode significar o movimento cultural que estou tentando criar em Weimar.''
Contratado até o ano 2000 para dirigir o teatro, Ivo afirma que gostaria de convidar Antunes Filho para dirigir o espetáculo ``Cem Anos de Solidão'', sobre o livro de Gabriel García Márquez, que ele pretende estrear em 1999.
``Weimar será a capital cultural da Europa em 1999 e eu gostaria de fechar o século com essa obra baseada em García Márquez'', diz.
Outro plano de Ivo é coreografar ``Mefisto'', sobre o ``Fausto'', de Goethe, que nasceu em Weimar.

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