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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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CINEMA

Produção do país ocupou 8% do mercado em 2002, que teve 90,8 milhões de ingressos vendidos, maior cifra desde 91

Filme nacional encolhe em ano recorde

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano do fenômeno "Cidade de Deus" -3,1 milhões de espectadores, maior platéia de um filme brasileiro desde 1990-, o cinema nacional encolheu sua participação no mercado interno.
Os 31 filmes que estrearam em 2002 tiveram público somado de 7,2 milhões. Isso significa 8% do total de espectadores no ano. Em 2001, o índice havia sido de 9%. O público total nos cinemas brasileiros no ano passado foi de 90,8 milhões, maior cifra desde 1991.
"A explicação é simples: faltou filme brasileiro popular, com vocação comercial", diz Bruno Wainer, diretor-executivo da distribuidora Lumière, que lançou "Cidade de Deus".
Por essa lógica, o desinteresse do espectador pelo filme nacional teria sua razão no próprio perfil da produção brasileira, e não em questões estruturais do mercado.
Mas Wainer argumenta que a análise serve apenas para o ano de 2002. "Acho que, no ano passado especificamente, o filme nacional não foi prejudicado pelos distribuidores, com maus lançamentos, por exemplo; nem pelos exibidores, com má-vontade para mantê-los em cartaz. Mas, para que o filme brasileiro aumente a participação percentual no mercado, alguém tem de perder. E aí, a briga é de cachorro grande", diz.

Política de ocupação
O executivo da Lumière acha que está em curso "uma política de ocupação do mercado pelas "majors" [as grandes distribuidoras norte-americanas]".
"Eles lançam cada vez mais títulos e com um número de cópias cada vez maior." Wainer cita o exemplo de "Homem-Aranha", que estreou simultaneamente em 503 telas brasileiras. O país possui 1.600 salas.
Com seus 8 milhões de espectadores, "Homem-Aranha", um lançamento da Columbia, é apontado como causa principal do aumento global de público em 2002.
Rodrigo Saturnino, diretor-geral da Columbia, diz que é "paranóica" a idéia de ocupação do mercado. "O que existe é uma política de explorar o filme no cinema o mais rápido possível, para encurtar o tempo até o DVD e a TV", afirma.
O objetivo seria, portanto, dar velocidade ao retorno financeiro. "Tanto é assim, que o próprio Wainer, quando tem um filme como "Todo Mundo em Pânico", também quer lançá-lo com 300 cópias", diz.
Produtores e cineastas argumentam que a estratégia de aumentar o número de lançamentos e de cópias de filmes estrangeiros estrangula a produção nacional. Para dar lugar a novas estréias, os filmes brasileiros estariam sendo retirados de cartaz antes de esgotar sua carreira nas salas.

Crescimento
Para 2003, existe a perspectiva de crescimento da participação brasileira no mercado, com a estréia de um número maior de produções populares.
Seria o caso dos derivados da TV ("Os Normais", "Casseta & Planeta"), do novo Guel Arraes ("Lisbela e o Prisioneiro") e de "Carandiru", de Hector Babenco, candidato a filme-fenômeno como "Cidade de Deus".
"Quando o filme brasileiro ocupava 35% do mercado, nos anos 70, era basicamente com títulos comerciais, de que, hoje, ninguém mais se lembra", diz Saturnino.
"Estamos bem na produção de blockbusters e na de filmes com pesquisa de linguagem. Falta o filme médio, aquele visto por 500 mil espectadores, que movimenta a indústria", afirma.


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