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CINEMA
Produção do país ocupou 8% do mercado em 2002, que teve 90,8 milhões de ingressos vendidos, maior cifra desde 91
Filme nacional encolhe em ano recorde
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano do fenômeno "Cidade
de Deus" -3,1 milhões de espectadores, maior platéia de um filme brasileiro desde 1990-, o cinema nacional encolheu sua participação no mercado interno.
Os 31 filmes que estrearam em
2002 tiveram público somado de
7,2 milhões. Isso significa 8% do total de
espectadores no ano. Em 2001, o
índice havia sido de 9%. O público
total nos cinemas brasileiros no
ano passado foi de 90,8 milhões,
maior cifra desde 1991.
"A explicação é simples: faltou
filme brasileiro popular, com vocação comercial", diz Bruno Wainer, diretor-executivo da distribuidora Lumière, que lançou "Cidade de Deus".
Por essa lógica, o desinteresse
do espectador pelo filme nacional
teria sua razão no próprio perfil
da produção brasileira, e não em
questões estruturais do mercado.
Mas Wainer argumenta que a
análise serve apenas para o ano de
2002. "Acho que, no ano passado
especificamente, o filme nacional
não foi prejudicado pelos distribuidores, com maus lançamentos, por exemplo; nem pelos exibidores, com má-vontade para
mantê-los em cartaz. Mas, para
que o filme brasileiro aumente a
participação percentual no mercado, alguém tem de perder. E aí,
a briga é de cachorro grande", diz.
Política de ocupação
O executivo da Lumière acha
que está em curso "uma política
de ocupação do mercado pelas
"majors" [as grandes distribuidoras norte-americanas]".
"Eles lançam cada vez mais títulos e com um número de cópias
cada vez maior." Wainer cita o
exemplo de "Homem-Aranha",
que estreou simultaneamente em
503 telas brasileiras. O país possui
1.600 salas.
Com seus 8 milhões de espectadores, "Homem-Aranha", um
lançamento da Columbia, é apontado como causa principal do aumento global de público em 2002.
Rodrigo Saturnino, diretor-geral da Columbia, diz que é "paranóica" a idéia de ocupação do
mercado. "O que existe é uma política de explorar o filme no cinema o mais rápido possível, para
encurtar o tempo até o DVD e a
TV", afirma.
O objetivo seria, portanto, dar
velocidade ao retorno financeiro.
"Tanto é assim, que o próprio
Wainer, quando tem um filme como "Todo Mundo em Pânico",
também quer lançá-lo com 300
cópias", diz.
Produtores e cineastas argumentam que a estratégia de aumentar o número de lançamentos
e de cópias de filmes estrangeiros
estrangula a produção nacional.
Para dar lugar a novas estréias, os
filmes brasileiros estariam sendo
retirados de cartaz antes de esgotar sua carreira nas salas.
Crescimento
Para 2003, existe a perspectiva
de crescimento da participação
brasileira no mercado, com a estréia de um número maior de
produções populares.
Seria o caso dos derivados da
TV ("Os Normais", "Casseta &
Planeta"), do novo Guel Arraes
("Lisbela e o Prisioneiro") e de
"Carandiru", de Hector Babenco,
candidato a filme-fenômeno como "Cidade de Deus".
"Quando o filme brasileiro ocupava 35% do mercado, nos anos
70, era basicamente com títulos
comerciais, de que, hoje, ninguém
mais se lembra", diz Saturnino.
"Estamos bem na produção de
blockbusters e na de filmes com
pesquisa de linguagem. Falta o filme médio, aquele visto por 500
mil espectadores, que movimenta
a indústria", afirma.
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