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In vino veritas
Com o aclamado (porém incrédulo) Paul Giamatti, "Sideways" percorre vinícolas da Califórnia
ED CAESAR
DO "INDEPENDENT"
Quando Deus criou o galã perfeito para Hollywood, provavelmente não tinha em mente Paul Giamatti, o astro de "Sideways
-Entre Umas e Outras", que é gordinho e está ficando careca. Mas,
no caso desse nova-iorquino ácido, parece que a indústria do cinema não leu o roteiro -Giamatti e "Sideways" conquistaram
aplausos da crítica e indicações
para toda espécie de prêmio.
"Mas Jude Law não corre o risco
de perder papéis para mim, certo?", resmunga Giamatti. A sensação é de que a humildade do ator
foi reforçada, depois de anos de
pontas, por um sentimento de alívio. "É, eu me sinto bem por enfim estar fazendo papéis principais", reconhece. O desempenho
de Giamatti como o cartunista
Harvey Pekar em "Anti-Herói
Americano", sucesso inesperado
do ano passado, causou água na
boca, mas foi só com "Sideways",
a história de um enófilo (Giamatti) que decide viajar de carro pelas
regiões vinícolas de Santa Barbara, na Califórnia, com seu colega
de faculdade (Thomas Haden
Church), que o mundo decidiu
prestar atenção nele.
Os críticos britânicos definiram
o desempenho de Giamatti no papel de Miles como "glorioso".
Mas, para o sujeito que muita
gente do cinema acredita ter sido
criminosamente ignorado nas indicações ao Oscar, a carreira de
ator nem sempre foi uma certeza.
"Eu estava na faculdade, e um
amigo me convenceu a trabalhar
numa peça. Eu não estava estudando teatro ou nada disso", relembra. "Depois, me mudei para
Seattle para trabalhar com animação, mas conhecia um cara que
operava um teatro lá e comecei a
ganhar a vida como ator."
O próximo passo na carreira do
ator, formado em letras inglesas,
foi a Broadway, e, depois de interpretações impressionantes em
"Arcadia", de Tom Stoppard,
"Racing Demon", de David Hare,
e "The Iceman Cometh", com Kevin Spacey, os profissionais de
teatro americanos sabiam que um
novo e grande talento surgia. De
fato, Giamatti estava se saindo tão
bem nos palcos que não se dedicou muito a conquistar espaço na
indústria cinematográfica. "Pensava em filmes como uma forma
de fazer dinheiro enquanto trabalhava no teatro. A mudança aconteceu quando fiz um filme chamado "O Rei da Baixaria". Era um papel maior e melhor do que os que
eu havia interpretado. Pensei que
era hora de começar a levar o cinema mais a sério."
A despeito de diversos papéis
pequenos mas efervescentes em
filmes como "Donnie Brasco",
Giamatti jamais se sentiu inteiramente confortável com o veículo.
"Eu odiava o cinema. Você fica
isolado de tudo", se queixa. "Isolado de seu corpo, porque tudo gira em torno do rosto, e isolado
dos outros atores. As tomadas em
plano médio são divertidas, mas
quando chega a hora dos close-ups de rosto, eu continuo a me
sentir desconfortável."
Parece quase incompreensível
que Giamatti, 37, veterano de
mais de 30 filmes entre os quais
"O Resgate do Soldado Ryan",
ainda se sinta desconfortável
diante de uma câmera. Ainda assim, "esse negócio de cinema",
expressão que Giamatti usa repetidamente, não parece estar indo
mal para ele. "As pessoas do ramo
dizem que atores como eu podem
florescer nesse "novo" ambiente,
mas não estou convencido", afirma. "Não existe uma mudança de
paradigma, na minha opinião.
Simplesmente tive sorte."
Giamatti se viu envolvido em
uma controvérsia que só deve
crescer, em Hollywood, se, como
se espera, "Sideways" conquistar
um ou dois Oscar. "Eu não quero
ser ridiculamente autodepreciativo, aqui", diz, "e realmente aprecio que tenhamos sido indicados
para essas coisas. Existe uma espécie de ansiedade inútil que
acompanha a indicação, mas eu
não creio que tenhamos chance
de ganhar um prêmio".
Caso"Sideways" receba o prêmio de melhor filme, dentro de algumas semanas, qual seria o seu
projeto ideal? "Adorei trabalhar
com Mike Newell em "Donnie
Brasco". E com Alexander Payne
em "Sideways". Tem uma mente
literária: gosta de palavras, e eu
gosto de palavras". E atores?
"Sempre admirei Robert Duvall.
Ainda que eu nem imagine o que
ele gostaria de fazer em minha
companhia. E John Hurt -um
ator excelente. Assim, nós três talvez pudéssemos nos envolver em
um filme sobre crime."
Por enquanto, o equilíbrio entre
pequenos papéis em filmes caros
e papéis principais em filmes modestos parece continuar no futuro
de Giamatti. Ele acaba de concluir
a filmagem de uma minúscula
produção independente chamada
"The Hawk is Dying" (o falcão está morrendo) e trabalhará com
Russell Crowe em "Cinderella
Man", cinebiografia de Jim Braddock, que estréia no terceiro trimestre. Por enquanto, teremos de
nos deliciar com os prazeres excêntricos de "Sideways".
Tradução Paulo Migliacci
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