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MEMÓRIA/"INTELECTUAIS E POLÍTICA NO BRASIL - A EXPERÊNCIA DO ISEB"
A história do Iseb, de JK à propaganda
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A história do Iseb (Instituto
Superior de Estudos Brasileiros) é a de uma organização que,
em apenas nove anos de existência, entre 55 e 64, se transformou
de candidata a "think tank" em
arremedo de "agitprop".
Quando se fala em Iseb, portanto, é preciso perguntar: qual deles? O da primeira fase, até 59,
coincidindo com o mandato de
Juscelino Kubitschek, se propôs a
pensar um modelo de desenvolvimento para o Brasil, com a contribuição de intelectuais de diferentes matizes ideológicos. O da segunda fase, o "último Iseb", esteve dominado por comunistas, cuja militância os colocou na mira
dos golpistas de 64.
A cisão está refletida em "Intelectuais e Política no Brasil - A Experiência do Iseb", uma reunião
de artigos de pessoas ligadas à história do instituto. Os autores divergem até sobre a própria existência de uma burguesia nacional
nos anos 50, sem o que não faria
sentido o projeto nacional-desenvolvimentista.
Hélio Jaguaribe, líder da primeira fase e defensor de um modelo
capitalista de desenvolvimento,
identificava uma burguesia nacional. O Partido Comunista Brasileiro também, e pregava sua aliança com a classe trabalhadora. Já o
sociólogo Fernando Henrique
Cardoso, citado por Jaguaribe,
discordava: para ele, o Brasil tinha
uma burguesia internacionalizada que usava o nacionalismo apenas com fins retóricos para justificar vantagens e proteções. O sociólogo Jorge Miglioli, que participou da segunda fase, explica a diferença entre burguesia brasileira
e nacional: a brasileira é apenas a
que detém capital; a nacional está
envolvida com a defesa dos interesses do país. Havia uma burguesia assim? "Se ela existia, então
aderiu inteiramente às forças do
golpe", conclui Miglioli.
Outro debate travado pelos autores é sobre a encampação do
projeto isebiano pelo governo JK.
Para Jaguaribe, foi isso o que
aconteceu, "quase que formalmente". Já para a pesquisadora
Alzira Alves de Abreu, houve uma
defasagem: o projeto nacionalista
chegou quando os tecnocratas de
JK já tinham outro projeto, baseado na cooperação internacional.
"Os integrantes do Iseb não perceberam a política econômica de
Kubitschek como uma política
em contradição com (suas) idéias.
Foi a partir de 1958 que ficou mais
claro que a política de Kubitschek
era desenvolvimentista, mas não
nacionalista."
O livro sofre com a irregularidade típica do formato. Além da excessiva redundância, há artigos
estilisticamente pedregosos, como o de Candido Mendes, que
destoam do tom mais coloquial
dos depoimentos interpretativos.
A ausência de um conjunto, porém, é compensada pelo resgate
de idéias de um período efervescente.
Oscar Pilagallo, jornalista, é editor das
revistas "EntreLivros" e "História Viva" e
autor de "A História do Brasil no Século
20" (Publifolha)
Intelectuais e Política no Brasil - A Experência do Iseb
Organização: Caio Navarro de Toledo
Editora: Revan
Quanto: R$ 38 (264 págs.)
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