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NELSON ASCHER
Quente ou frio?
O lobby mais poderoso
e articulado é, sem dúvida, o dos verdes
ou ecologistas
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QUANDO VIERAM atrás das
lâmpadas incandescentes,
não protestei porque já me
habituara a ler à luz de outras; quando baniram os bifes, não disse nada
porque podia comer pizzas; quando
eliminaram os transgênicos, tampouco reclamei, pois meu salário
bastava para comprar alimentos orgânicos; quando proscreveram os
vôos internacionais, dei de ombros,
pois já conhecia Paris, Londres, Veneza; quando tornaram proibitivo o
uso de automóveis, obrigando todos
a se aglomerarem em ônibus e metrôs, calei-me porque trabalhava em
casa; quando plastificaram as genitálias alheias para limitar a produção de bebês, ri da história porque
não me dizia respeito; quando criminalizaram a sátira, os comentários politicamente incorretos, a obesidade, o fumo etc., aí, obviamente,
já era tarde demais para abrir o bico.
Poucas décadas atrás, todas as
proibições mencionadas teriam parecido ridículas, quando não absurdas. Dependendo de onde a vítima
viva, hoje a maioria delas se tornou
real demais. E muitas estão sendo
impostas aos cidadãos não por meio
de mecanismos democráticos, como
a discussão e o voto, mas através de
lobbies endinheirados que pressionam governos para que estes imponham à sociedade as manias desta
ou daquela minoria obsessiva.
O lobby mais poderoso e articulado é, sem dúvida, o dos verdes ou
ecologistas. Esse pessoal não apenas
meteu na cabeça que, devido a algumas variações de frações de graus
nos últimos cem anos, o planeta está
prestes a se derreter, como se convenceram também de que nós, ou
seja, os seres humanos, é que somos
a causa do suposto desastre. Gente
como Al Gore, os militantes do
Greenpeace e os burocratas transnacionais da ONU selecionam a dedo, entre inúmeras hipóteses contraditórias, as poucas que lhes confirmam os preconceitos, obtêm
apoio de alguns cientistas que acreditam nelas, conseguem o silêncio
de muitos outros e, valendo-se de
modelos computacionais às vezes
duvidosos, muitas vezes discutíveis
e discutidos, transformam em verdade absoluta o que mal passa, no
momento, de uma especulação entre tantas, declarando, precipitada e
acientificamente, que se trata de
consenso indiscutível. Para completar, demonizam ou isolam quem
quer que levante a menor objeção.
Mas, como não faltam mais aqueles que estão devidamente habituados a/e vacinados contra seu terrorismo conceitual (e, não raro, seu
terrorismo propriamente dito), o fato é que, se submetidas aos processos decisórios normais de uma democracia, as medidas que eles reivindicam para combater tais males
imaginários jamais seriam referendadas pelo grosso do eleitorado. Aí
entram milionários como George
Soros, companhias preocupadas
com o efeito da propaganda negativa, firmas interessadas em vender
produtos ecologicamente corretos,
economias estagnadas que vêem
nessa medida uma maneira de prejudicar as que andam a pleno vapor,
países, ou antes, governos e elites do
Terceiro Mundo aos quais se promete certa vantagem financeira em
troca de apoio e assim por diante.
Um exemplo ajuda: pouco antes
de deixar a presidência dos EUA para se tornar uma presença requisitada em Davos e lobbista internacional, Bill Clinton assinou o Protocolo
de Kyoto. Por que é que só o fez então? Porque sabia que o documento
não tinha a menor chance de passar
pelo Senado. Embora seu gesto fosse, como tal, inútil, este aumentava
sua popularidade entre o jet-set internacional em detrimento, é claro,
da imagem de seu país. E isso apesar
de sabermos que Kyoto era praticamente inútil, que as nações mais vocalmente empenhadas em seu sucesso têm sido as que mais longe ficaram das metas propostas.
A preocupação exacerbada com o
clima e o meio ambiente, coisas cujo
funcionamento se conhece pouco e
mal, já resultaria em problemas
imediatos, pois, para a parcela miserável da humanidade, dificulta cada
vez mais a superação de seu estado.
O que a faz ainda pior é o fato de que
seja usada para encobrir ou eclipsar
as questões verdadeiramente urgentes, os perigos autênticos que
nos rondam: fanatismo religioso e
conflitos interétnicos, terrorismo e
banditismo internacionais, contrabando de armas e narcotráfico, migrações descontroladas, ditaduras
genocidas em vias de adquirir armamentos nucleares. Nada disso, porém, desviará a atenção de milhares
ou milhões de militantes que, como
os adeptos de qualquer seita, são
movidos por dois desejos prazerosos, a saber, o de policiar a vida
alheia e o de punir o sucesso de sociedades inteiras que não comungam de sua fé apocalíptica.
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