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Cineasta é tema do ciclo 'Ivanpirismo, a História de um Olho', no MIS
Ivan Cardoso é mestre em
aproximar imagens distantes
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
Se muita gente pensou a relação cultura popular/alta cultura
no Brasil, poucos conseguiram
articular tão bem essa passagem
quanto Ivan Cardoso.
Cardoso é um provocador que
consegue abrigar no mesmo balaio Glauber e Júlio Bressane,
Hélio Oiticica e Zé do Caixão,
Nosferatu e o Anjo, o Nô e o
pornô.
Essa capacidade de aproximar
imagens distantes, que dificilmente se comunicam, poderá
ser comprovada no ciclo "Ivanpirismo, a História de um
Olho", de hoje a 8 de fevereiro,
no Museu da Imagem e do Som
(MIS) de São Paulo.
Um outro aspecto importante
desse trabalho, que são os vários
suportes em que trabalha o cineasta -super-8, 16 mm, 35
mm, vídeo-, também será
abordado.
Isso acontece nos dois debates
a serem realizados (amanhã e
dia 6, às 22h), em que a composição da mesa é bem sintomática dessa variedade: estarão desde José Simão, colunista da Folha e ator de "A Múmia Volta a
Atacar" (de 1972, a ser apresentado amanhã, às 17h) até Ivan
Isola, produtor, passando por
Jairo Ferreira -talvez o mais
importante cultor do super-8 no
Brasil, ao lado de Cardoso- e
Décio Pignatari, poeta.
Mas é nos filmes que se poderá
observar a variedade de sua produção. Entre os muitos curtas a
serem apresentados, será possível ver raridades como "Alô
Alô Cinédia", making of de "O
Rei do Baralho", de Júlio Bressane (dia 7, 15h), ou o documentário "Moreira da Silva",
que resgata o mestre do samba
de breque (dia 7, 21h).
Ainda no setor raridades
-vasto, no caso-, são a não
esquecer "Nosferatu no Brasil", média em super-8 em que
Torquato Neto comparece como ator (dia 7, 17h), "À
Meia-Noite com Glauber", que
registra o encontro entre Glauber e o artista plástico Hélio Oiticica (dia 7, 21h) e "Dr. Dyonélio", documentário sobre o romancista Dyonélio Machado, a
partir de texto de Décio Pignatari (dia 6, 21h).
Existe ainda o nada desprezível setor de longas-metragens
comerciais do diretor. Se os curtas, documentários e ensaios em
super-8 prefiguram um universo, ele toma forma efetivamente
nos longas.
Alguns fizeram sucesso, como
"O Segredo da Múmia" (dia 7,
19h), que revisita o Egito Antigo, tal como visto por Hollywood, revisitado pela chanchada e reciclado num momento
pós-Zé do Caixão. Ou ainda o
simpático "As Sete Vampiras"
(dia 8, 19h).
Mas o espectador poderá, sobretudo, agarrar a chance para
ver "O Escorpião Escarlate"
(dia 6, 19h), filme de 1993 sobre
uma fã do seriado de rádio "O
Anjo", dos anos 50, que em dado momento se integra às aventuras de seu herói.
É uma comédia policial de primeira, que, devido ao descrédito do cinema brasileiro naquele
momento, passou em brancas
nuvens. Mas ela sintetiza o universo do cineasta: obsessão com
os anos 50, elegância nas imagens, reconstituição de época
apaixonada.
Poderá-se com justa razão dizer que falta nos debates uma
personagem básica desse cinema: o roteirista R.F. Luchetti,
que ele tomou de empréstimo a
José Mojica Marins -o Zé do
Caixão- e que mais ou menos
garante o amálgama da geléia
geral em que Cardoso vai juntando popular e nacional, alta e
baixa cultura com uma desenvoltura que muitas vezes faz esquecer o quanto isso é difícil e o
trabalho que implica. Mas, claro, isso está longe de invalidar
esse ciclo provocador.
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