São Paulo, quarta, 4 de fevereiro de 1998

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PERSONALIDADE
Causa da morte do cantor, que deu entrevista à Folha há dez dias, teria sido insuficiência pulmonar
Silvio Caldas morre aos 89 em Atibaia

Evelson de Freitas/Folha Imagem
O cantor Silvio Caldas, que morreu ontem, aos 89 anos, em Atibaia (SP), em foto de 26 de janeiro último


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

O cantor carioca Silvio Caldas morreu ontem, às 17h30, em Atibaia (65 km ao norte de São Paulo), onde morava havia mais de quatro décadas. Ele tinha 89 anos e teria morrido de insuficiência pulmonar (a causa não foi divulgada até a conclusão desta edição).
A Folha entrevistou o cantor há dez dias, no sítio em que ele morava com a mulher, Miriam, 50, os filhos Roberto, 21, Camila, 20, e o neto Vinícius, 2, filho de Camila.
Enfraquecido por uma cirurgia no joelho que sofreu há três meses, depois de uma queda, havia sido forçado a parar de beber -então, parou também de se alimentar.
Há dois anos, quando do lançamento da caixa de CDs "O Caboclinho Querido", ele afirmou à Folha que havia tomado durante o dia oito doses de uísque e que chegaria a 16 até a noite.
Ultimamente, quase não falava mais, se comunicando principalmente por meio de sinais. Preferia fazer sinais de "positivo" e "mais ou menos" com a mão e permanecia o dia inteiro deitado.
"Não estou triste, estou doente. Sinto até caxumba", disse no último dia 26.
Mito da música popular brasileira entre os anos 30 e 50 e co-autor, com Orestes Barbosa, do clássico "Chão de Estrelas", estava internado desde a última sexta-feira na Clínica de Repouso Elo, onde morava havia mais de quatro décadas.
O sítio em que morava, que já foi a leilão várias vezes, está agora à venda por conta de uma dívida de R$ 295 mil junto à Caixa Econômica Federal, que o artista não tinha como pagar.
Hipoteca
Em 1983, Caldas hipotecou a propriedade. "A dívida inicial era de R$ 44 mil, o resto são juros acumulados nesses anos todos, mudança de moeda...", afirmou sua mulher, Miriam, 50.
Vivia de R$ 900 mensais de aposentadoria como compositor e remessas referentes a direitos autorais que chegam a R$ 2.500 por semestre, segundo Miriam.
Cantando profissionalmente desde os anos 20, Silvio Caldas dividiu um cenário disputado com Orlando Silva, Francisco Alves e Carlos Galhardo.
Cravou dezenas de sucessos radiofônicos: "Serra da Boa Esperança" (de Lamartine Babo), "Faceira" (Ary Barroso), "No Rancho Fundo" (Lamartine e Ary), "Maringá" (Joubert de Carvalho), "Pierrot" (deste e de Paschoal Carlos Magno).
Gravou Pixinguinha, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Pedro Caetano, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Do disco, afastou-se há mais tempo -não gravava havia 19 anos; lançara dezenas de discos de 78 rotações e LPs e gravara duetos com cantoras como Carmen Miranda e Elizeth Cardoso.



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