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MULTIMÍDIA
Projeto coordenado pelo crítico de cinema Jean-Claude Bernardet mostra monólogo de Annette Ramershoven
"Fátima" interpõe teatro e cinema sob mesmo texto
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A questão das fronteiras entre as
formas de expressão, cada vez
mais em pauta na cultura contemporânea, ganha estímulo para
debate com o espetáculo e o filme
homônimos "Fátima".
O público entra na sala, assiste
ao curta-metragem de 27 minutos. À subida dos créditos, funde-se a encenação da peça, que dura
meia hora. Dramaturgia e roteiro
são tratados como monólogo.
"Fátima" é uma co-produção da
Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (ECA),
por meio do seu Núcleo de Dramaturgia Audiovisual (Nudrama), e o Centro Cultural São Paulo, onde o projeto estréia hoje na
sala emblematicamente batizada
com o nome do crítico de cinema
Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977).
O texto é da dramaturga e diretora alemã Annette Ramershoven. Foi selecionado na oficina de
monólogos realizada em 2002 pelo Nudrama, coordenado pelo escritor, crítico de cinema e professor Jean-Claude Bernardet.
Peça e filme expõem o fluxo de
consciência de uma mulher, dona
de galeria de artes que sofre doença terminal e, presume-se, também atravessa crise conjugal.
A estrutura paralela de "Fátima" mantém o texto e atrizes, repetição que quer evidenciar as
propriedades de cada linguagem.
No teatro, o monólogo contrapõe as vozes e as ações da mulher
(Zezeh Barbosa) e da possível
amante do marido, Luiza (Ondina Castilho), estagiária na galeria.
Tudo se passa num apartamento.
Já o filme foca também o marido (João Carlos Andreazza), ampliando os planos. Além do ambiente fechado, há o tempo real da
rua, onde o marido caminha angustiado, e o plano propriamente
dos delírios de Fátima, enciumada de Luiza.
"O que o marido está supostamente fazendo ou vendo é o que
ela vê. O subjetivo do personagem
masculino é todo dela", diz Rossana Foglia ("Mutante", 2002),
co-diretora do filme com Ramershoven. Evita-se também que
a informação visual reitere a narrativa predominantemente em
"off" da protagonista.
Como diretora da peça, Annette
Ramershoven procura sair do
realismo. "Interesso-me pelo subtexto, pela atitude da personagem. Busco outras janelas que o
teatro permite", diz. Ramershoven, 40, está radicada no Brasil
desde o início da década e desenvolve pesquisa ligada ao teatro-dança.
Em cena, o monólogo configura
mais um "biólogo", como diz Zezeh Barbosa, comediante que experimenta registro de interpretação dramático. Fátima e a Luiza
de Ondina Castilho, ex-atriz do
CPT de Antunes Filho, chegam a
ser confundidas, no bom sentido
da cena.
"Uma coisa à qual queríamos
absolutamente escapar é o mecanismo de adaptação. Nas duas linguagens, respeita-se o mesmo
texto", diz Bernardet, 67.
O projeto reflete ainda a expressão teatro filmado. "[O crítico
francês André] Bazin falava em
"cinema impuro". [O cineasta dinamarquês Lars] Von Trier optou
por um espaço teatral em "Dogville". Não vejo problema, não sou
dogmático", diz Bernardet. No
dia 11/3, após a sessão, ele participa de debate sobre "Fátima" com
o dramaturgo Rubens Rewald e o
crítico de teatro da Folha, Sergio
Salvia Coelho.
FÁTIMA.
Cenografia, iluminação e
direção de Arte: Roberto Eiti Hukai.
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala
Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro,
1.000, tel. 0/xx/11/3277-3611). Quando:
estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h;
dom., às 20h. Quanto: R$ 10 (R$ 1,20 no
dia 14/3). Até 21/3.
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