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Moby fala sobre seu novo disco, "Hotel", comenta atual situação política dos Estados Unidos e diz sentir vergonha de ser norte-americano
Pânico em NY
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Richard Hall é um sujeito franzino, careca, sentado com um dos
pés sobre o sofá, que observa
atento o movimento à sua volta.
Tem quase 40 anos (aniversário:
11 de setembro), mas não aparenta; é americano, mas faz questão
de se dizer envergonhado; descende de um dos mais célebres escritores do país, mas nem comenta; divide-se entre inúmeras atividades, mas parece calmo; se apresenta como tiete, mas é um ídolo.
Richard, desde que nasceu, atende pelo apelido Moby.
Não dá para colar uma etiqueta
em alguém que vai da música ambiente ao punk rock com destreza
e faz discos que vendem de menos
de 100 mil cópias ("Animal
Rights", 1996) a quase 10 milhões
("Play",1999). Prolífico e incansável seriam as mais aceitáveis.
No mês passado, Moby recebeu
a Folha em um hotel em Nova
York para falar de música, política
e do novo disco ("Hotel" chega às
lojas no próximo dia 14). A turnê,
diz, deve incluir uma passagem
pelo Brasil em setembro ou outubro, ainda não confirmada. Ah,
sim: o apelido vem de Moby Dick,
livro de seu antepassado Herman
Melville. Leia os principais trechos da entrevista:
Folha - "Hotel" destoa de seus últimos trabalhos. Você não usou
sampler nenhuma vez. Por quê?
Moby - Foi assim que saiu naturalmente, porque eu acabei escrevendo umas 200 músicas e algumas tinham samplers, mas eu não
gostava tanto delas. É um disco
mais pessoal, e eu achei que para
conseguir isso faria sentido maneirar nos samplers.
Folha - Vamos ter chance de ouvir
as músicas descartadas?
Moby - Algumas não eram boas.
Joguei fora. Algumas devem sair
como B-sides, e estou pensando
em soltar um disco de punk rock,
ou de disco, sob um pseudônimo.
Folha - "Hotel" soa nostálgico.
Você estava se sentindo assim?
Moby - Muito. O que tem acontecido, principalmente em Nova
York, é que um monte de músicas
de que eu gostava na adolescência
voltaram à moda. Você entra
num bar e está tocando Joy Division, passa na rua e tem um menino de 19 anos com uma camiseta
do Cure. Muitas bandas nova-iorquinas soam como se fossem dos
anos 80: Interpol, Strokes, Yeah
Yeah Yeahs, Rapture... Isso me
deu uma liberdade para fazer um
disco que lembrasse os anos 80.
Folha - As coisas estavam muito
ruins para forçar essa volta?
Moby - Os anos 90 foram uma
época muita ruim para o rock nos
EUA. Como a música alternativa
não vendia muito nos anos 80, foi
feita muita coisa interessante. De
repente, com o Nirvana, as pessoas viram que música alternativa
podia vender discos e enriquecer
gente, e as gravadoras passaram a
contratar um monte de bandas
que soam iguais. Acho que a razão para haver tanta gente olhando para os anos 80 é que naquela
época havia Joy Division, Devo,
Pixies -música experimental de
verdade-, e nos anos 90 tem
Limp Bizkit e Creed...
Folha - "Hotel" é mais político do
que seus últimos álbuns.
Moby - É que ele é mais pessoal.
O interessante na relação entre
política e arte é poder abordar o
aspecto humano. Por exemplo,
"Lift me Up" é política, mas de
um modo quase antropológico.
Não é um protesto aberto.
Folha - Como foi participar da
campanha presidencial ao lado de
John Kerry?
Moby - Foi muito interessante.
Eu já havia me envolvido com política no passado, mas não a esse
ponto. A maioria de nós dava como certa a vitória de Kerry, porque era óbvio que ele era um candidato melhor. Achávamos que,
se a região central do país soubesse a verdade sobre Bush, não votaria nele. Só que a verdade não importa para eles. Eles gostam de
Bush porque ele parece um cara
que você convida para um churrasco. Essas pessoas nunca saem
de seus Estados, tudo o que eles
sabem do resto do mundo vem da
Fox News. Por isso elas têm uma
visão muito estreita e simplista do
mundo. Os EUA votaram no candidato do churrasco.
Folha - Você está frustrado?
Moby - Frustrado e envergonhado. Eu viajo e tenho vontade de
dizer que eu não sou americano,
sou nova-iorquino. NY é quase
um país europeu bem pequeno
encravado na costa dos EUA.
Quando penso nos EUA centrais,
nos caras que adoram suas armas,
vêem as corridas de Nascar, ouvem country music e gostam de
queimar livros, penso que aquele
não é o meu mundo. Acho que esse país devia ser dividido em dois.
Folha - Isso não é elitista?
Moby - Eu fico feliz em ser elitista
se o meu elitismo se opõe à ignorância. As prioridades dos EUA
estão invertidas. Essas pessoas deveriam ser tiradas do poder, pois
abusaram dele. Sabe, eu tenho essa fantasia de que os outros países
vão fazer uma intervenção nos
EUA, vão tomar o nosso poderio
militar e dizer que só nos devolverão quando estivermos adultos.
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