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Cadão Volpato encontra sua MPB
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Cadão Volpato é um homem
que tem várias coisas para falar.
Na enxurrada de palavras, nem
sempre o conteúdo de seu discurso é interessante para ele mesmo.
Trabalha como jornalista, profissão que encontrou para seguir vivendo a vida de contas a pagar.
Mas Volpato, 48, tem sua válvula de escape, talvez a sua verdadeira vocação. Nas brechas entre
uma reportagem e outra, cria um
tempo para expor sua veia criativa. É escritor e ficou mais conhecido pelo seu gogó -cantor, foi o
vocalista do Fellini, uma das bandas paulistanas de menor sucesso,
e mais cultuadas, dos anos 80.
Agora, parte para empreitada
solitária. Encara, pela primeira
vez, uma carreira solo, com "Tudo que Eu Quero Dizer Tem que
Ser no Ouvido", disco simples,
mas não simplório, composto
apenas por voz e guitarra -tocada pelo próprio Volpato- e produzido por Maurício Bussab (do
eletrônico Bojo). Como numa liberação de criatividade reprimida, o escritor/músico lança também novo livro, "Questionário",
inspirado em Marcel Proust.
"Nessas horas, é como se eu fosse "O Médico e o Monstro", me alternando entre o artista e o jornalista. Aqui é o Brasil, não há meio-termo", diz Volpato.
Não surpreende, então, que o
cantor desempenhe, na música,
uma prática tão comum no jornalismo. Ele mesmo encarna o chamado "outro lado" da história
-procedimento de reportagem
em que o autor da matéria entrevista pessoas com opiniões conflitantes entre si sobre um tema.
À frente do Fellini, ele era o "outro lado" do então emergente
rock brasileiro, de RPMs que lotavam estádios e Titãs que agradavam ao público e à crítica. "Éramos os chatos do período, nunca
tivemos que ir ao programa do
Chacrinha. Claro que nossa música não era feita para estourar..."
Hoje, ele se diverte com o revival dos anos 80 e artistas que retornam para faturar em cima da
onda. "Esse mico eu não tenho
que pagar, essa coisa de ficar
mendigando a atenção do público, aqueles caras com barrigão
competindo com o Felipe Dylon.
Claro que eu adoraria viver de
música e literatura, mas aquelas
foram minhas opções na época
[do Fellini], seja aquilo correto ou
apenas esnobe."
"Tudo que Eu Quero Dizer..."
tem o impacto da estranheza que
fez o som do Fellini, mas caminha
por outras direções. Volpato busca um caminho mais melódico,
uma "MPB esquisita", em que a
poesia de versos deliciosamente
surrealistas -a melhor delas,
"Carrossel", é inspirada em René
Magritte- encontra o som limpo, mas ainda assim cortante, de
uma guitarra acústica. De mansinho, Volpato entra na música popular brasileira de um Brasil utópico feito de sonhos.
Tudo que Eu Quero Dizer Tem que Ser no Ouvido
Artista: Cadão Volpato
Lançamento: Outros Discos
Quanto: R$ 25, em média
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