São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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"LADRÃO DE DIAMANTES"

Produção do diretor Brett Ratner tem os atores Pierce Brosnan e Salma Hayek no elenco

Filme-brinquedo combina casamento com ilusão do roubo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Magic Johnson foi um ilusionista. Aliás, o basquete, como os filmes de ladrões requintados, é um terreno do ilusionismo, com experimentos em gravidade, disfarçadas estratégias de violação e aquisição de espaço, deslocamentos sonsos; com uma arte da cor e da coreografia que, como Spike Lee nos diz em "He Got Game", é balé. Nas duas coisas há um equilíbrio entre a dissimulação elegante e lúdica e a necessidade do rigor mecânico nos procedimentos -a eficiência para ativar um desenho tático ou, nos filmes, um plano de roubo.
Não à toa "Ladrão de Diamantes" começa em uma quadra, dos Lakers, de Johnson. De lá, Brosnan organiza um roubo e obtém uma jóia. Vai para uma ilha paradisíaca com a esposa, Hayek, parceira de golpes. Mas eis que aporta lá outra jóia, que o instigará.
Esse conteúdo esportivo diz muito sobre todo o filme, em que o roubo está condicionado pelo ludismo e pela eficiência. Não por acaso, o método de captura dos diamantes passa não raro por Brosnan transformar carros ultraequipados e adultos em subservientes carrinhos de controle remoto. E não é de se estranhar que o filme, na estrutura, seja também um brinquedo. Como?
É verdade que aqui há imagens e expedientes modernos do filme de roubo, mas o invólucro é retrô, cortesia da música de Lalo Schifrin, marca nos 70s. Mais: Rattner transplanta para o artesanato do filme de roubo uma tradição americana, a comédia matrimonial. Situação manejada com habilidade: o roubo é a raiz do casamento e também seu distúrbio. Brosnan quer continuar se divertindo com o crime. Já Hayek quer uma convivência pacificamente regida por estatutos domésticos. Não há comédia de casamento sem o crime, e não há filme de roubo sem a visão do casamento.
Pois o prazer "esportivo" dos homens ladrões (o centro do filme) depende sempre da doação das mulheres e do uso de seu imaginário afetivo. Aqui, eles só conseguem viabilizar a engenharia de suas operações manipulando, às vezes teatralmente, vulnerabilidades afetivas e o ideário romântico feminino, sobretudo ligado ao idilismo litorâneo -este especialmente nutrido por elas e pela fotografia do filme- e ao desejo de pacto duradouro a dois.
(CLAUDIO SZYNKIER)


Ladrão de Diamantes
After the Sunset
    
Direção: Brett Ratner
Produção: EUA, 2004
Com: Pierce Brosnan, Salma Hayek, Woody Harrelson
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Jardim Sul, Tamboré e circuito


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