São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pink Floyd na Amazônia

"Adoro o som dos oboés e violoncelos"

Ex-vocalista do Pink Floyd, Waters pretende se aposentar das apresentações ao vivo e pode se dedicar à música clássica

Versão de "Ça Ira" no Festival Amazonas de Ópera terá uma "nova ária" e "estrutura teatral mais forte", afirma o músico de 64 anos

Katarina Stoltz/Reuters
Cena de "Ça Ira' na estréia como ópera, em 2006, na Polônia


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Às vésperas de pendurar as chuteiras, o roqueiro inglês Roger Waters, 64, vem ao Brasil para preparar a apresentação de uma ópera. Waters planeja chegar a Manaus daqui a duas semanas para acompanhar os ensaios de "Ça Ira" (algo como "vai dar certo"), de sua autoria, que abre, em 15 de abril, o 12º Festival Amazonas de Ópera.
"Fico arrepiado só de me imaginar trabalhando na Amazônia", disse o ex-baixista e vocalista da banda Pink Floyd à Folha por telefone. "Minha principal referência do teatro Amazonas é "Fitzcarraldo", de Werner Herzog, e sinto como se conhecesse as pessoas de lá".
"Ça Ira", ambientada na Revolução Francesa, começou a tomar forma em 1988 -três anos depois de Waters sair do Pink Floyd-, quando o cancionista e roteirista francês Etienne Roda-Gil e sua mulher, Nadine, abordaram Waters com o libreto da ópera e pediram ajuda com a música.
Sem experiência prévia na composição de músicas clássicas, Waters entrou em estúdio com um engenheiro de som e, usando samplers e outros recursos eletrônicos, produziu em 30 dias o primeiro esboço.
Até François Mitterrand, então presidente francês, teria dado uma força para que "Ça Ira" fosse encenada na Ópera da Bastilha, em Paris, durante o bicentenário da revolução, em 1989. Contudo, com a troca de comando musical na casa (o coreano Myung Whun Chung substituiu o israelense Daniel Barenboim), o projeto foi arquivado, para ser retomado só sete anos depois.
Em 1997, Waters começou a trabalhar sobre uma versão inglesa do libreto. Rick Wenworth ajudou nos arranjos e na orquestração de "Ça Ira", que estreou em versão de concerto em Roma, em 2005; na seqüência, saiu um álbum duplo, pela Sony, com um elenco estelar, capitaneado pelo baixo-barítono galês Bryn Terfel, 41.
O roqueiro não deixou de mexer na ópera desde então. Foram feitas modificações para as montagens que se seguiram, em Poznan (Polônia) e Kiev (Ucrânia), e novidades devem aparecer em Manaus.
"Aprendi bastante com cada apresentação, e venho editando e escrevendo a ópera seguidamente", conta Waters. "Para Manaus, fiz uma nova ária, e acho que a estrutura teatral, agora, é mais forte".

Despedida
Na semana passada, Waters anunciou que deixará os palcos com uma miniturnê mundial, em que tocará faixas do clássico do Pink Floyd "Dark Side of the Moon" (1973), incluindo apresentações em abril, no Festival Coachella, na Califórnia, e em maio, em Londres e Liverpool.
À Folha Waters afirmou que o universo da música clássica pode ser um dos caminhos depois da aposentadoria das apresentações ao vivo. "Sabe, os músicos que tocaram "Ça Ira" vivem me pedindo: "Por que você não escreve para nossos instrumentos?" E eu adoro o som dos oboés, dos violoncelos, das flautas", conta.
"Sou inglês e, finalmente, encontrei um lar para mim, nos EUA. Andei trocando muito de casa, tive várias relações com mulheres, que não deram certo, mas acho que, agora, estou na idade de assentar. Quem sabe, então, seja o momento de ficar sossegado em algum canto, compondo e realizando, finalmente, a fantasia de não estar sob pressão o tempo todo".


Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.