São Paulo, quarta, 4 de março de 1998

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LANÇAMENTO
Madonna volta freak e lisérgica em novo disco

Mario Testino/Divulgação
Em foto de Mario Testino, Madonna, 39, aparece de cabelos compridos e look mais natural no encarte de seu novo disco, "Ray of Light"


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

O mundo pop está em festa. Chega às lojas "Ray of Light", novo disco de Madonna.
Gostando-se ou não da cantora, trata-se de poderoso fenômeno que não dá para ignorar. Mesmo porque Madonna serve de termômetro e fornece pistas para alguns valores dos nossos tempos, independente do valor musical de seu trabalho.
Assim, a embalagem de "Ray of Light" é um quociente de religiosidade, de busca do verdadeiro Eu (dela) por meio de ioga, meditação, cantos, mantras.
Em termos musicais, esses elementos se traduzem em uma produção que se apega a sonoridades viajantes, atmosféricas, hipnóticas e quase lisérgicas.
O homem escolhido para a proeza é o produtor inglês William Orbit, um dos pilares da ambient music européia. Autor de mixes para a faixa "Erotica", Orbit cria o recheio de tudo, junto com a própria Madonna e outro antigo colaborador da cantora, Patrick Leonard.
"Sempre penso em termos musicais e agora eu sabia que queria ir atrás de alcançar diferentes planos espirituais e emocionais. Comecei estudando a cabala e também me vi interessada em hinduísmo e ioga, e pela primeira vez saí de mim mesma para ver o mundo sob uma perspectiva diferente."
"Estive ouvindo a música de William e senti que havia uma reflexão muito próxima de onde eu queria chegar, uma perfeita tela de fundo para as letras que eu havia escrito. Achei que poderia ser uma interessante justaposição, combinando o som viajante dele com exuberantes arranjos de orquestra e as minhas letras, buscando alguma coisa além do comum e do ordinário." É o que diz Madonna no material de imprensa que o acompanha.
Bjork, Portishead e Tricky são referências importantes (leia quadro nesta página). A moderna e volátil estrutura da "new electronica" também, valorizando um tipo de composição que se utiliza de elementos da chamada dance music sem necessariamente fazer dançar.
Madonna tenta combinar experimentalismos com a vocação do pop que precisa nortear seu trabalho. Se "Ray of Light" mostra que a cantora está tentando a contemporaneidade, não chega a ter nenhum momento brilhante.
Quando tenta ser dance mesmo é uma catástrofe. A trance music (variação da house music que, com batidas crescentes e melodia repetitiva, remeteria a um transe) é a fórmula escolhida, garantindo pistas e ouvintes mais comerciais.
Quando nada mais há para mostrar -ou escândalos a produzir-, mesmo assim Madonna se mostra ainda imbatível em marketing: transforma em notícia momentos comuns a qualquer indivíduo nas mesmas situações.
Vejamos: Madonna está com 39 anos, teve uma filha e sente-se sozinha, como provavelmente todos nós, em algum momento. Repensa (verbo típico de análise) sua vida e sua relação com a inominável fama que tem; começa a falar em morte em suas letras. Tirou a famosa pinta acima da boca e, dizem as más línguas, também algumas rugas do rosto.
Madonna pinta as mãos de henna e encarna agora modelo neo-hippie. Descuida (intencionalmente) dos cabelos e avisa que devemos olhar mais para dentro de nós mesmos. Como ela mesma canta em "Frozen": "Mmmmmm..."

Disco: Ray of Light Artista: Madonna Lançamento: Warner


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