São Paulo, quinta-feira, 04 de abril de 2002
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O testamento do grunge
SÉRGIO DÁVILA DE NOVA YORK "Eu só preciso de uma turma, um público, uma razão para sorrir. Não vou sufocá-los, ah, merda, merda, por favor, tem alguém aí? Alguém, qualquer pessoa, Deus me ajude, me ajude, por favor. Eu quero ser aceito. Eu tenho de ser aceito. Visto qualquer tipo de roupa que vocês quiserem! Estou muito cansado de chorar e sonhar, estou tãããão, tãããão sozinho. Não tem ninguém aí? Por favor, me ajude. ME AJUDE!" O trecho acima foi escrito provavelmente em 1993 e faz parte de um dos 23 cadernos de anotações de próprio punho, quase 800 páginas de sexo, drogas, rock'n'roll e muita angústia em estado bruto. O autor é Kurt Cobain, encontrado morto com um tiro na cabeça em 8 de abril de 94, aos 27 anos, o último nome seminal do pop americano, o inventor do grunge, líder do Nirvana e autor de hinos como "Smells Like Teen Spirit". Parte dos textos apareceu na biografia "Heavier than Heaven", de Charles R. Cross, lançada no ano passado e que chega nas próximas semanas ao Brasil, pela editora Globo. Além da companheira do roqueiro, Courtney Love, e de seu parceiro de banda Krist Novoselic, o jornalista foi a única pessoa a ter acesso aos escritos. O resto ficaria para sempre escondido do grande público, não fosse o senso de oportunidade de uma editora nova-iorquina e a fome de dinheiro de Love, herdeira de Cobain e detentora dos direitos de sua obra, que pode ter levado até US$ 4 milhões na negociação. Em fevereiro, uma hora antes de os direitos de publicação irem a leilão público, a Riverhead Books, um dos braços americanos da britânica Penguin Putnam, adquiriu o pacote, que deve virar livro até novembro. Na semana anterior ao acordo, os representantes da viúva colocaram os diários à disposição de 11 editoras. Quem folheou ficou impressionado com o conteúdo: além dos textos, há desenhos, letras de música, lista de seus 50 CDs preferidos e de músicos que supostamente o influenciaram. Há cartas para ex-namoradas e até um bilhete em que demite o primeiro baterista do Nirvana. "Tem coisas maravilhosas ali", disse à Folha Charles R. Cross. "A letra de Cobain não era grande coisa, mas seus desenhos são profissionais e pouco conhecidos do grande público. Além disso, o teor dos escritos é extremamente pessoal e revelador." A editora já faz uma seleção do material e só cerca de metade do escrito e desenhado deve chegar ao livro. "Os diários são um retrato íntimo e inalterado de um artista de grande influência", disse Julie Grau, da Putnam. "Eles documentam as lutas criativas e pessoais de Cobain." A decisão de publicação irritou alguns fãs no dia seguinte ao anúncio. O roqueiro não gostaria de ver sua intimidade exposta, disseram. Courtney Love foi veemente na defesa: "Todos pensam em "são Kurt", o modesto. Pois ele era mais ambicioso que uma Ashley Judd cafeinada!". HEAVIER THAN HEAVEN - MAIS PESADO DO QUE O CÉU. Autor: Charles R. Cross. Editora: Globo. Lançamento: 25 de abril. Quanto: R$ 43 (456 págs.). Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Trecho Índice |
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