|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NIRVANA
"Fragmentos de uma Autobiografia" traça perfil da vida do roqueiro grunge por meio de suas composições
Livro brasileiro disseca as letras de Kurt Cobain
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Enquanto a viúva Courtney Love implica com o lançamento de
canções inéditas do Nirvana, cabe
ao meio literário a tarefa de, aos
poucos, esmiuçar o importante
legado deixado por Kurt Cobain.
Do Brasil, contribuição a essa
missão aparece na próxima semana, quando chega às livrarias
"Kurt Cobain - Fragmentos de
uma Autobiografia", do jornalista
Marcelo Orozco.
A partir da análise das letras
cantadas pelo grupo, o livro traça
um perfil daquele que foi o principal letrista-guitarrista-rockstar-herói de..., bem, quase todo mundo que se importa com rock.
Desde a época em que gravou o
disco de estréia do Nirvana pela
merreca de US$ 600 ("Bleach",
em 89) até seu ápice ("Nevermind", 91) e manifesto antitudo
("In Utero", 93), Cobain sempre
colocou em suas letras -muito
mais do que qualquer outro de
sua geração- as emoções e percepções pessoais que o afligiam,
justificando, para Orozco, a forma como esta biografia foi feita.
"É interessante saber de onde
surgiram as músicas, o contexto
em que elas foram feitas, e não
apenas dados da vida dele. Algumas letras têm versos fragmentados, meio soltos, e às vezes não se
percebe a ligação com o que ele
sentia no momento", diz. "Há
também o lado niilista, uma herança do punk, que foi o que o
motivou na carreira."
A "devassa" nas composições
do ex-líder do Nirvana custou a
Orozco seis meses, terminando
em janeiro deste ano. Revistas, livros e sites na internet foram a base para a pesquisa. "Se eu tivesse
que fazer uma biografia "a rigor",
teria que estar no local, entrevistar
quem estava perto dele. E esse tipo de biografia acaba passando
por cima das músicas", explica.
Com esse método escolhido, o
leitor é torpedeado com dados curiosos e reveladores, como no segmento destinado a "Serve the Servants", faixa que abre "In Utero".
O verso "a raiva adolescente deu
bons lucros" é uma alusão a um
artigo sobre a banda publicado na
revista "Rolling Stone" que dizia:
"A alienação deu bons lucros ao
Nirvana com "Nevermind'".
Essa mesma faixa é, para Orozco, uma das mais autobiográficas
escritas por Cobain. "É onde ele
fala explicitamente, pela primeira
vez, da separação de seus pais.
Outra no estilo é "On a Plain" [de
"Nevermind"", que, mesmo feita
de última hora, mostra bem sua
personalidade ambígua", afirma.
Além da contextualização de cada letra dos seis CDs lançados pelo Nirvana, músicas que não entraram nos álbuns, lados B e covers também são decifrados. O
autor ainda traça um ano a ano
com os momentos mais relevantes da vida de Cobain e da banda.
A leitura de "Fragmentos" é
mais uma evidência da razão pela
qual o Nirvana exerce fascínio até
hoje: as letras de Cobain o colocam lá em cima, ao lado de Lennon e Dylan.
Último detalhe. Sabe por que o
primeiro disco do grupo,
"Bleach", tem esse título? Numa
passagem por San Francisco, Cobain, Krist Novoselic (baixista) e
Dave Grohl (baterista) viram vários cartazes nas ruas com os dizeres "Bleach Your Works". Era
uma campanha que recomendava aos usuários de drogas injetáveis que desinfetassem suas seringas para não contrair o vírus HIV.
Num estalo, veio a idéia: nada se
encaixaria melhor para batizar o
álbum do que "bleach" (espécie
de preparado químico usado para
sanear e alvejar), que tem o poder
de salvar vidas...
KURT COBAIN - FRAGMENTOS DE
UMA AUTOBIOGRAFIA. Autor: Marcelo
Orozco. Editora: Conrad. Quanto: R$ 34
(224 págs.).
Texto Anterior: Trecho Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|