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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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"Frida" transpõe para o cinema vida e obra da pintora mexicana Frida Kahlo

Da tela à tela

Divulgação
Salma Hayek, intérprete de Frida, e Ashley Judd dançam em cena do filme de Julie Taymor sobre a pintora mexicana


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O desafio está colocado: quem sorver o maior gole da bebida dança com a dama.
Os muralistas mexicanos Diego Rivera (Alfred Molina) e Siqueiros (Antonio Banderas) capricham nas talagadas. Mas quem vence é outra dama -Frida Kahlo (Salma Hayek), que se autoconvidou para a disputa.
A cena, ambientada numa festa de artistas e intelectuais, condensa as características de "Frida", longa de Julie Taymor que estréia hoje no Brasil.
O filme percorre a vida da pintora mexicana, desenhando o perfil de uma mulher que desafiou convenções, a começar pelas limitações de sua saúde frágil.
Kahlo teve poliomielite aos 7 anos e, aos 18, sofreu um acidente que a deixou temporariamente paraplégica e teve consequências irrecuperáveis em sua coluna e em uma de suas pernas.
Depois de voltar a andar, Kahlo se aproximou do muralista Diego Rivera, o maior nome da arte no México, 21 anos mais velho que ela. Com Rivera, viveu um casamento pontuado por relações paralelas de ambas as partes e muitas crises, durante as quais a pintora intensificava o uso de álcool.
Esquerdistas notórios, Rivera e Kahlo hospedaram o pensador comunista Leon Trotski, durante seu exílio no México, onde foi assassinado. Antes, Trotski e Kahlo tiveram um romance.
Taymor disse que se interessou em dirigir "Frida" (um projeto de Hayek), porque se sente "atraída pela história de amor entre Rivera e Kahlo e também pela extraordinária cultura mexicana".
"Em muitos filmes contemporâneos sobre o México, vemos tantos clichês sobre tráfico, drogas e o submundo da metrópole, mas tão raramente a beleza do país e sua cultura sofisticada."
A cineasta chegou a "Frida" -uma produção da Miramax orçada em US$ 12 milhões- com apenas um longa no currículo ("Titus", 1999), a credencial de uma carreira de 30 anos no teatro, onde é reconhecida principalmente pelo trabalho com bonecos, e uma elogiada montagem de "O Rei Leão" na Broadway.
"Meu trabalho no teatro me deu disciplina para mostrar a experiência interior de um fato, e não apenas a exterior. Ou seja, em tratar a realidade de um ponto de vista subjetivo, e não só objetivo."
No México, o filme recebeu críticas por ser falado em inglês. "Isso é estúpido. A arte transcende a língua. Frida pertence ao mundo", diz Taymor.
Vencedor dos Oscars de maquiagem e trilha sonora, o filme motivou um discurso antiguerra do ator mexicano Gael García Bernal, na entrega dos prêmios.
Bernal afirmou que "se Frida estivesse viva, estaria conosco, contra a guerra". Taymor diz que gostou do comentário, mas vê nele um caráter "não diria ingênuo, mas de simplificação".
"O problema é que esses comentários estão sendo feitos agora que a guerra já começou e está em curso. Antes de seu início, certamente deveríamos falar todos contra a guerra. Mas agora as coisas ficaram mais complicadas. O que devemos fazer? Ir embora?"
Taymor afirma que "Frida obviamente seria contra a guerra. Mas ela teve posturas políticas muito ingênuas também. Foi stalinista, por exemplo. Isso pode ser considerado algo positivo?".


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